60 anos do voo de Yuri Gagarin relança o debate sobre exploração espacial e o progresso humano
Por: Giovanny Simon*
Há 60 anos, quando a URSS lançou Yuri Gagarin abordo do Vostok 1 (Leste) e o colocou um ser humano em órbita no espaço pela primeira vez, o mundo era completamente diferente. Com o odioso custo de milhões de vidas, a humanidade tinha há uma década e meia livrado o planeta do fascismo, com a contribuição decisiva do único estado socialista existente até então. Após isso, uma torrente democrática passou a rebentar as correntes do imperialismo e do colonialismo. A libertação da China, da Índia, da África e das lutas anti-imperialistas na América Latina se misturavam ao progresso da energia nuclear e da exploração espacial. O Sul Global aproveitava o impulso democrático da vitória contra o nazismo e acertava contas com os seus próprios déspotas.
A exploração espacial soviética estava inserida em um conteúdo democrático e progressista. Ao ser lançado ao espaço, Gagarin gritou “Поехали!” (Poyehali, isto é, “Vamos!”), uma frase consagrada no vocabulário russo. A propaganda soviética da época associava a exploração espacial com a paz, o progresso, a amizade entre os povos.
Hoje a exploração do espaço que parece ser dominada por figuras lastimáveis como Elon Musk, tende a estar a serviço da burguesia imperialista decadente. A exploração espacial e a almejada colonização de Marte parece ser apenas uma fuga do iminente colapso do nosso lar terrestre. As elites parecem já ter desistido de salvar o planeta e agora planejam deixá-lo. Com o fim da URSS, o progresso humano ficou bloqueado pelos interesses de uma classe decadente e incapaz de projetar os interesses autênticos da humanidade que clama por soluções concretas aos problemas de ordem sócio-metabólica.
A aliança estratégica entre Rússia e China colocou nos planos dos dois governos uma base na lua para muito em breve. Mas mesmo na Rússia o legado soviético ainda vive uma disputa, entre o humanismo concreto criado pelo socialismo soviético e o espírito chauvinista russo, que vive de parasitar os méritos soviéticos no âmbito militar e científico. Ainda carecemos de um projeto civilizatório global que se contraponha de forma mais aberta à escalada irracionalista e predatória do imperialismo.