Semear a esperança
Por: Mateus Engel Voigt
“A desesperança nos imobiliza e nos faz sucumbir no fatalismo onde não é possível juntar as forças indispensáveis ao embate recriador do mundo. Não sou esperançoso por pura teimosia, mas por imperativo social e histórico. (…) não há utopia verdadeira fora da tensão entre a denúncia de um presente tornando-se cada vez mais intolerável e o anúncio de um futuro a ser criado, construído política, estética e eticamente por nós mulheres e homens.”
Pedagogia da Esperança – Paulo Freire
Passados uma semana do primeiro turno das eleições seu resultado ainda segue indigesto. Era visível o clima fúnebre entre os eleitores de Lula no dia seguinte à votação, marcado pelas previsões do desastre que nos espera por conta das bancadas reacionárias, privatistas e anti-povo eleitas no Senado, Congresso Nacional e Assembleias estaduais. É, com certeza, um cenário desanimador que tira o brilho de vitórias para o campo popular e de esquerda como o aumento das cadeiras ocupadas pelo PT e PSOL, pela eleição de lideranças indígenas e mulheres trans.
A formação social do Brasil, pela sua história de violência, exploração e dominação arraigaram relações que fortalecem o conservadorismo, o personalismo e patrimonialismo, a violência e o racismo. Tais elementos se expressaram no resultado das urnas para deputados e senadores, demonstrando uma tendência fascistizante que não deve ser menosprezada. Por isso, a situação brasileira exige de nós pessimismo em sua análise, mas otimismo na vontade de mudar essa realidade. A história não é estática, como lembram Marx e Engels no Manifesto Comunista de que “tudo que é sólido se desmancha no ar”.
Se nós militantes comunistas e esquerda em geral não temos esperança para mudar a realidade quem terá? E essa esperança não significa mascarar a dura realidade, pelo contrário, é a partir da própria experiência da realidade que nasce a esperança. Se não fosse assim não teríamos rupturas históricas de ciclos de exploração, como as lutas anticoloniais e anti-imperialistas em África, América Latina e Ásia, as revoluções socialistas vitoriosas e a derrota do nazifascismo empreendida nos anos 40 do século passado. Todos esses eventos históricos tiveram algo em comum, a esperança de mudança e construção de um mundo melhor que deu forças para a luta.
A esquerda e todos aqueles identificados com valores humanistas fizeram certo em tomar as ruas na campanha, em usar seus símbolos e se juntar no dia da apuração – seja para comemorar ou se apoiar. Tais atitudes são fundamentais para mostrar que somos muitos e estamos dispostos ao enfrentamento. O bolsonarismo tenta nos intimidar com a violência, quer que fiquemos acuados em casa, à essa ofensiva respondemos ocupando as ruas. Os adesivos do Lula muito mais do que converter votos semeiam a esperança, cumprindo papel de identificação com um projeto maior que o rosto de uma pessoa.
Nessas próximas 3 semanas temos muito trabalho pela frente: eleger Lula e os governadores por ele apoiados, do Amazonas à Santa Catarina, em São Paulo, Alagoas e Sergipe, na Bahia e no Espírito Santo. Votos não faltam para ser conquistados e com eles corações e mentes para um futuro melhor, um futuro de esperança que possa derrotar a ofensiva fascista e construir um Brasil sem fome, preconceito e exploração, com emprego e uma economia forte e variada, que proteja sua biodiversidade e seu povo. A única luta que se perde é aquela que se abandona, enquanto semearmos a esperança e enfrentarmos o inimigo não estaremos derrotados!