Eleger Lula e lutar pelo socialismo: as tarefas da juventude brasileira
Direção Nacional da Juventude Comunista Avançando
Após uma década de ofensiva imperialista e reacionária em nosso país, enfrentamos uma das eleições mais importantes da história de nosso povo. Maltratada pela miséria, pela fome e pelo desemprego, boa parte da juventude brasileira enxerga nestas eleições um momento para encerrar o governo antipopular, antinacional e capacho do estrangeiro encabeçado por Jair Bolsonaro. No entanto, não basta vencer eleitoralmente Bolsonaro! Para causar uma derrota histórica ao fascismo é preciso caminhar decididamente para o socialismo e varrer a escória lambe-botas das elites brasileiras da política nacional.
Para nos posicionarmos nestas eleições não basta, no entanto, apresentarmos o argumento simples de que é preciso caminhar para o socialismo. Nem o programa mais revolucionário, com um conjunto de demandas que poderia garantir dignidade material e cultural, é o suficiente para apoiarmos nosso povo na luta pelo socialismo.
Em nível nacional, passamos por uma piora dramática das condições de vida e de luta nos últimos anos, especialmente depois do golpe de 2016 e da escalada fascistizante que ameaça as poucas liberdades políticas existentes no atual regime brasileiro. Não nos enganamos: estamos lutando contra o fechamento fascista do regime, contra a criminalização da luta social, pela liberdade política e religiosa, pelo direito mais basilar à educação, pelo direito ao pão e à terra, e há chances concretas de termos de enfrentar um golpe advindo do inimigo com apoio do imperialismo e das classes dominantes brasileiras. O governo comandado por um fascista flerta com uma ditadura policial e fascista aberta desde o início de sua campanha em meados da década passada e não pode ser tratado com desdém nem durante as eleições, nem mesmo após sua derrota.
Entre a cruz e a espada, estamos posicionados em uma conjuntura defensiva em que há possibilidades concretas de golpe ou autogolpe de Estado, e nos encontramos em meio a uma eleição nacional extremamente politizada, onde um lado defende o genocídio e a morte, e o outro melhores condições de vida e trabalho. E isso se dá porque não lutamos pelo socialismo no campo de batalha que escolhemos, e não lutamos apenas com as melhores disposições e convicções que podemos sonhar. Lutamos pelo socialismo na realidade concreta, com as opções concretas dadas ao conjunto do povo, e com os níveis de consciência concretos de nosso povo.
Infelizmente não há hoje na juventude, nas classes trabalhadoras do campo e da cidade e no conjunto de seus aliados históricos, uma consciência socialista cristalizada e amadurecida para que possamos caminhar para este horizonte, nem ao menos uma vaga consciência anti-imperialista consolidada. Lutamos pelo socialismo nestas condições. Também já faz muito tempo desde que comunistas ou socialistas perderam sua condição de vanguarda do povo trabalhador brasileiro, posição da qual fomos expulsos pela perseguição, tortura, morte, e pelos erros táticos e, fundamentalmente, estratégicos que os comunistas cometeram nas últimas décadas, perdendo assim sua influência nos setores decisivos do povo. As organizações políticas como nós e demais camaradas que se entendem “revolucionárias” no contexto da esquerda nacional são muito reduzidas, e trabalhamos com grandes dificuldades materiais em uma conjuntura internacional de refluxo e reconstrução do movimento comunista.
Os comunistas participam das eleições burguesas sempre que possível, sempre lutando por melhores representantes das pautas populares, pela elevação do nível de consciência, pela propaganda da ideologia revolucionária e contra a política do inimigo, entre outros motivos. Isso não significa, no entanto, que os comunistas disputam as eleições burguesas sempre em chapas puras, sem levar em conta as consequências mais gerais para a situação política da luta de classes do país. Lênin em O esquerdismo, doença infantil do comunismo, já alertava para os perigos de posições sectárias eleitorais dos comunistas que pudessem confundir, atrapalhar, ou prejudicar deliberadamente a vitória de posições progressistas em benefício da simples “demarcação política dos comunistas”.
Em nosso cenário eleitoral, é muito claro que a polarização nacional e a história deste momento importante da disputa política terá um ponto importante na luta entre Lula e Bolsonaro nas urnas. É direito de toda a organização política lançar candidaturas próprias para as eleições, mas o povo não é confuso ao ponto de, neste cenário de polarização nacional, depositar seu voto em proposições débeis e sem lastro contundente de movimento no cenário nacional.
Com respeito aos camaradas de outras organizações que pensam diferente, apresentar candidaturas presidenciáveis com o estofo de organização popular que possuímos hoje é colocar acima da principal tarefa política nacional a autoconstrução e demarcação de diferença entre as organizações de esquerda, através de candidaturas que não poderão alterar o resultado eleitoral ou incidir de forma relevante na luta de classes. Lutar para “se diferenciar do PT”, “resguardar a autonomia revolucionária das outras tendências reformistas”, todos esses seriam receios justos se nós mesmos não tivéssemos clareza de nossas diferenças estratégicas com o Partido dos Trabalhadores e com Lula. Não entramos nesta campanha eleitoral para pôr os interesses partidários e o patriotismo de uma ou outra organização acima dos interesses de classe da juventude brasileira e do conjunto da classe trabalhadora do país. Não entramos nesta eleição para fazer briga de torcida para descobrir qual programa é o mais revolucionário e mais puro em relação à infiltração burguesa. Entramos nesta disputa eleitoral para causar uma derrota ao fascismo e iremos até às últimas consequências travando este combate – combate que só será levado a fim e ao cabo no interior da campanha eleitoral de Lula, sua posse e defesa de seu mandato frente às agressões das elites e do imperialismo.
Estamos lutando contra o fascismo e a miséria deixada à juventude e às classes trabalhadoras. Independentemente do governo eleito, acabar com a emenda constitucional do teto de gastos, reverter as contrarreformas trabalhista e da previdência, reestatizar a petrobrás e o pré-sal, proteger os Correios, a Eletrobrás, valorizar o salário, todas estas medidas estão na ordem do dia para a juventude e estarão radicalmente prejudicadas com uma vitória bolsonarista nestas eleições. Uma vitória como esta significará a ampliação da miséria, o fim das oportunidades de estabilidade trabalhista para os jovens, e a simplificação cada vez mais empobrecedora da educação nacional.
No próximo período, lutaremos para recompor as merendas escolares, para reverter o dano causado pelo “novo ensino médio”, o dano causado na estrutura do ENEM e na procura pelo ensino superior. Lutaremos pela universalização do ensino superior, por condições de permanência para que a universidade abrigue o povo e que se volte para as maiores urgências nacionais. Lutaremos pelo fim dos vínculos de trabalho sem jornada máxima e sem proteção trabalhista, que arremessam a maior parte da juventude em bicos e em condições inseguras para começar a contribuir com suas famílias e ingressar na vida adulta. Deveremos combater a criminalização da cultura, a repressão que escala nas comunidades periféricas e bairros populares, especialmente contra a maioria negra brasileira que ainda é alvo dos fuzis da repressão pela cor da pele.
O programa de Lula com certeza não leva ao fim e ao cabo uma política revolucionária, anti-imperialista, antilatifundiária e antimonopolista adiante – o programa admite contradições oriundas da própria natureza burguesa estratégica do Partido dos Trabalhadores (PT), que não adotou em nenhum momento de sua história uma postura revolucionária em seus princípios ideológicos, teóricos e políticos gerais. Isso, no entanto, não suja ou impede que façamos uma campanha de qualidade ao redor de Lula, que tenha inclusive alcance muito maior para as pautas populares do que o próprio PT admite. Não buscamos lutar pelo programa perfeito, inclusive porque não é o programa de Lula que o leva a ser o representante do povo na polarização nacional – é a força de organização da massa que existe por trás de sua figura e o reconhecimento pela maioria dos brasileiros de sua posição de vanguarda na luta política nacional que o fazem ser o representante dos oprimidos e explorados nestas eleições, quer queiram os comunistas ou não.
Para lutar por dignidade e pelos sonhos de igualdade, fartura, vida e dignidade, estamos desde o primeiro dia somados à mobilização nacional pela vitória de Lula! Não vacilamos frente ao fascismo, e temos ciência de que nossos princípios e horizontes estratégicos neste momento coincidem com a luta pela eleição do presidente. Ingressamos na campanha de Lula sobre as nossas próprias bandeiras, nossos próprios símbolos e pela luta por um horizonte socialista para nossa juventude e para toda nossa gente, ciente dos imensos desafios que nos guarda o futuro e com as dificuldades inerentes a opção política pela luta revolucionária através desta candidatura. Contra o imediatismo falsamente revolucionário e o reboquismo, lutamos pela eleição de Lula e para continuarmos lutando por um horizonte socialista para o nosso povo!
Avançar!