ENRAIZAR A UNE NO COTIDIANO ESTUDANTIL, AVANÇAR POR UMA UNIVERSIDADE POPULAR!

Este ano teremos o CONUNE (Congresso Nacional dos Estudantes da UNE), o congresso responsável pela eleição de uma nova direção da maior entidade estudantil da América Latina. Apesar de sua força e potente história, a direção majoritária da entidade desde o começo dos anos 2000 vem construindo uma política de afastamento do cotidiano dos estudantes e negociatas por cima com empresas e governos. O congresso, além de eleger a nova direção da UNE, também busca decidir com os estudantes as nossas ações como movimento estudantil nos próximos dois anos, mas historicamente os debates que lá acontecem importam pouco para o nosso dia a dia.
A majoritária da UNE é composta por juventudes do PT e PCdoB (Kizomba, Paratodos, JRdoPT, entre outras juventudes petistas e pela UJS), juventudes que não querem que os estudantes conheçam a UNE nem a sua força como entidade. Grupos que possuem como objetivo principal manter seu domínio sobre a máquina estudantil, aproveitando-se do peso histórico, visibilidade e recursos da entidade para atuar como correia de transmissão dos governos petistas e/ou aparelho de autoconstrução partidário. Esse processo que se iniciou segunda-feira para eleição de chapa é muito importante: é através dele que os delegados da USP, que representarão todos os estudantes da Universidade, são eleitos para novamente eleger uma direção majoritária como essa, ou propor algo diferente, de fato comprometido com o futuro das nossas universidades, cursos e profissões. É se engajando nesse processo que podemos ter esperanças de um dia mudar a política da UNE e fazer com que essa entidade esteja presente no nosso cotidiano estudantil.
Para isso, a nossa organização busca construir unidade com as mais diferentes organizações que se oponham à política imobilista e por vezes conservadora da majoritária da UNE, priorizando chapas e unidade com o campo da Oposição de Esquerda. Por este motivo, em São Paulo, onde todas as iniciativas e debates políticos ganham projeção nacional e força de atração para outros lugares do Brasil, decidimos por construir a chapa 1 – A USP não se rende: unidade é pra lutar. Esta é a única chapa que ao nosso ver consegue aglutinar setores críticos à majoritária e propor alternativas reais e consequentes para o movimento estudantil.
Entramos nesta chapa, construímos suas iniciativas e programa buscando aprofundar os laços do campo de oposição à direção da UNE, mas sem que isso signifique uma oposição ao governo federal. É preciso que os estudantes de todo Brasil tenham clareza que não há hoje alternativa ao governo federal que elegemos em 2022: não há possibilidade de construção de um governo com viabilidade eleitoral e política sem Lula, PT, PCdoB, Psol e tantas outras organizações de esquerda que compõem o governo.
Promover uma oposição “de esquerda” ao governo significa enfraquecê-lo, desorganizar a classe e colocar água no moinho da oposição que tem de fato força de massas, financeira e política – a oposição fascista do capital monopolista, dirigida pelos militares através de Bolsonaro, Tarcísio e do bolsonarismo em geral. Neste sentido, é necessário maturidade frente às críticas e disputas que faremos. É necessário defender veementemente iniciativas do governo que contenham o fechamento de regime, e mesmo as iniciativas de frações burguesas, como a atuação do STF contra Bolsonaro e todos os golpistas, buscando dar conteúdo e caráter popular à luta contra a anistia e contra a reciclagem das iniciativas e lideranças golpistas após o plano frustrado de assassinar integrantes dos três poderes e do 8 de janeiro.
Ao mesmo tempo, apoiamos e unimos forças a iniciativas de organizações do governo e que também estão na majoritária, como a luta pela federalização de chacinas promovidas em governos fascistas e também do PT, que foi puxada pela organização adulta da JRdoPT. Construímos a luta e saudamos as diversas formas de combate pelo fim da jornada 6×1, com projeto de lei protocolado no Congresso pela deputada Erika Hilton – que faz parte de uma corrente do PSOL cada vez mais próxima da majoritária e construímos em unidade com todo o campo governista o plebiscito popular. Para nós isso é a construção na prática da frente única proletária contra o fascismo: unidade nas lutas para derrotar o fascismo, o nosso principal inimigo, e a defesa do governo frente aos ataques fascistas. É necessário fazer tudo que for possível para unificar o bloco de forças contra-hegemônico do nosso país, buscando mobilizar e organizar o povo para que o governo deixe de capitular às posições de direita que hoje adota, como faz com os cortes no BPC, o contingenciamento de verbas para as universidadades federais, com a não revogação do Novo Ensino Médio, medidas que pioram as condições de vida da juventude e das massas trabalhadoras em geral. E dando cada vez menos espaço para os sabotadores burgueses que os companheiros do PT trouxeram erroneamente para dentro do governo.
No entanto, se frente à luta nacional contra o fascismo possuímos diversos pontos comuns com organizações da majoritária, e entendemos a importância de articular o bloco de forças contra-hegemônicas dentro e fora do governo, não é isso que está posto para a UNE. A disputa da UNE não corre riscos de ser tomada pela direita e não há um ataque organizado das forças de repressão contra a entidade. Pelo contrário, o principal risco que a UNE corre é de ficar às margens da luta contra o fascismo, atuando como elemento desagregador do bloco contra-hegemônico. É este risco que corremos quando PCdoB e PT, escolhem não dar vazão a mobilizações importantes e consequentes levadas a cabo por setores da base social que elegeu Lula, como foi com a greve das federais, da qual a majoritária se absteve. A mobilização do povo fortalece os elementos mais democráticos do governo Lula, não o enfraquecem, e sobretudo defendem o governo do avanço do fascismo.
Também fortalecem o fascismo quando esses mesmos setores apoiam direta ou indiretamente diversos ataques do capital contra a educação, como a reforma do novo ensino médio, a política de inovação e empreendedorismo da USP, a transferência de tecnologia das universidades para empresas, e o cada vez maior aparelhamento do aparato público em benefício de poucos empresários nacionais e estrangeiros Seria muito importante e salutar uma reforma universitária! Mas só existe reforma quando os estudantes, professores, servidores, e sobretudo o povo identificam a necessidade de romper com as atuais amarras impostas pelo capital. Uma verdadeira reforma universitária, que avance na direção da construção de uma universidade popular, não acontece com a elaboração de meia dúzia de dirigentes estudantis e uma negociação com o governo. Pior, corre o risco de disfarçar como progressista novos ganhos para o capital.
Por isso, fazemos oposição à majoritária e construímos unidade com Juntos/MES e Correnteza/PCR nesta eleição. Certamente temos diferenças de táticas e estratégicas saudáveis, mas vemos na atuação parlamentar de Sâmia Bomfim e Glauber Braga e nas manifestações de Leo Péricles e diversos camaradas da UP exemplos positivos aos estudantes, contribuindo para a consolidação da frente única proletária.
Buscamos desde o início das conversas democratizar o tão aparelhado e restrito processo eleitoral, que da forma que ocorre hoje – como tradição tanto da majoritária quanto da oposição – afasta e torna inviável a participação efetiva com possibilidade de opinião e decisão de estudantes não organizados. O processo eleitoral de DCE e CONUNE hoje na USP transforma os estudantes que não militam em organizações político-partidárias em meros espectadores, que devem apoiar os partidos que lhe convencerem. Queremos diferente. Queremos que os estudantes sejam agentes políticos e ativos deste processo, que possam ter protagonismo, independente de filiação partidária ou não. Para a majoritária isso seria completamente exótico às suas concepções, uma vez que hoje veem muito mais o povo como alvo de políticas públicas do que agentes políticos, e as entidades estudantis como propriedade de organizações e partidos. Para a Oposição, é necessário democratizar a luta e aceitar o risco de dar protagonismo aos estudantes mesmo que isso não traga novos membros para nossas fileiras. Devemos utilizar nossas organizações para impulsionar a luta, contribuindo para dar continuidade nos momentos de refluxo e desinteresse, e profundidade para além das pautas imediatas e mais simples nos momentos de maior engajamento e mobilização. Certamente cerramos fileiras na USP com aqueles que privilegiam a luta em detrimento das negociatas, aqueles que defendem os interesses do povo em detrimento do capital. Construíremos sempre unidade com todos aqueles que tiverem como tarefa principal contribuir com a elevação do nível de consciência estudantil e popular, e ingressaremos nas iniciativas que fomentarem a organização dos setores antiimperialistas, antimonopolistas e antilatifundiários.
Avançar por uma UNE combatente e aberta aos estudantes! Lutar, Criar Universidade Popular! Abaixo a política de inovação e empreendedorismo da burguesia!
Núcleo Carlos Marighella – Juventude Comunista Avançando, 29 de maio de 2025