A vitória repousa na linha curva do horizonte. Fora Bolsonaro – Pela vida, por trabalho e comida!

A vitória repousa na linha curva do horizonte. Fora Bolsonaro – Pela vida, por trabalho e comida!

Por: Giovanny Simon

Quem acompanhou, como eu, o processo de impeachment de Dilma por fora das intrigas palacianas sabe que se tratou de um processo longo. Entre Cid Gomes acusando o MDB de achacadores na Câmara em 18 de março de 2015 e Eduardo Cunha proferindo seu voto a favor do impeachment pedindo pela misericórdia divina para a nação em 17 de abril de 2016 (já que os golpistas e entreguistas não o tiveram), aconteceu muita coisa.

Ajuste fiscal, protestos patrocinados pela Rede Globo, o pato da Fiesp, a saída do MDB do governo, a nomeação e anulação de Lula como Ministro, vazamento de ligações, os movimentos contra o golpe, etc.

O fato é que o isolamento de Dilma, que culminou no golpe de 2016, foi um movimento construído pouco a pouco. Esses foram, aliás, apenas os elementos visíveis. É certo que houve muita sujeira e articulação que não conhecemos, como ficou explícito pelos áudios de Romero Jucá.

Além da óbvia lição de que a conciliação com a direita só ajudou a enterrar o governo petista, há uma nuance aí que precisa ser observado.

Esse impeachment não foi um raio de céu azul. Ele foi construído. Por métodos e propósitos proto-fascistas, é claro. Mas ele envolveu um processo que combinou movimentos de rua, articulações por cima, lawfare, espionagem e transações econômicas. É explícito que mesmo a direita imperialista não era e não é onipotente. Ela também precisa articular setores e mobilizar forças para atingir seus objetivos e o faz melhor quando tem claro quais são eles.

Agora, a direita tradicional que protagonizou o processo de impeachment de Dilma sob o pretexto das “pedaladas fiscais” tem sido cúmplice de Bolsonaro, quando usa de toda a categoria de justificativa estapafúrdia para atrasar a remoção do genocida. A última de Rodrigo Maia foi o risco de que Bolsonaro saia fortalecido, caso o impeachment seja derrotado, comparando com o primeiro impeachment de Trump. Uma desculpa sem cabimento, já que o bufão de Washington acabou de entrar na seleta lista de presidentes dos EUA que perderam a sua reeleição.

Enquanto isso, o cretinismo parlamentar busca uma aliança com Maia e Baleia Rossi para a presidência da Câmara em troca de “promessas”. Nenhum compromisso firme sobre impeachment foi feito. As justificativas pragmáticas triunfaram por pouco no PT e foram felizmente derrotadas no PSOL.

Até quando ficaremos esperando que a iniciativa de construir o impeachment parta de quem não tem discordância naquilo que mais importa? Bolsonaro e Maia são aliados na destruição da economia e da soberania nacional. E impeachment se constrói quando há vontade política e condições para tal.

O fato é que não é possível nenhum avanço ou pelo menos a contenção mínima de danos da pandemia com Bolsonaro no governo. Qualquer revolucionário, comunista, reformista, cristão ou cidadão moralmente decente tem que concordar com isso.

Esse objetivo deve ser hoje prioritário, como já afirmou o PCLCP ano passado. Remover Bolsonaro do poder é urgente. É uma questão de sobrevivência. Já vínhamos falando do Fora Bolsonaro como uma palavra-de-ordem necessária. E ela tem hoje ganhado mais concretude nos recentes pedidos de impeachment.

Por mais que Haddad seja recuado e cheio de limites políticos, ele teve o mérito de ter retirado o debate do impeachment do espaço exclusivo das negociações parlamentares que rondam as eleições para a Câmara. Abrir o placar do impeachment é um passo necessário para que o protagonismo desse processo saia do controle absoluto de Rodrigo Maia e sua laia.

Haddad falou em “pressão dos eleitores sobre os deputados”. Aí novamente se expressam os limites de Haddad como típico quadro petista de gabinete. Não são os eleitores que devem pressionar pela mudança de votos dos deputados, mas sim os movimentos populares, sindicais e de esquerda. Pautar o impeachment com energia é fazer oposição de verdade. Principalmente porque a direita tradicional não quer, já que não tem grandes contradições com essa fração das classes dominantes. Dessa maneira, pautar o impeachment é sair da impotência e da inoperância política daqueles que ainda creem que a saída está em uma frente ampla para 2022.

Porém, o impeachment, ou o “Fora Bolsonaro”, (que não tem nada a ver com o Fora Dilma), precisa estar associado com os gargalos mais sentidos pela massa do povo brasileiro: a saúde, a fome e o desemprego. É preciso uma ampla campanha pela remoção de Bolsonaro que invoque essas palavras-de-ordem. “Fora Bolsonaro – Pela vida, por trabalho e comida”.

Já apontei anteriormente que os impactos do fim do auxílio emergencial serão imensos. E demandas de subsistência tenderão a se tornar cada mais relevantes. Elas precisam ser politizadas! Mais do que eleitores pressionar deputados, as massas trabalhadoras precisam pressionar as classes dominantes para causar uma derrota ao imperialismo com o afastamento de Bolsonaro. “Ah! Mas impeachment não vai derrotar o fascismo, tem o Mourão”. E nem 45mil toneladas de bombas derrotaram completamente o fascismo porque se trata de um fenômeno da época do capital financeiro que só pode ser superado pelo socialismo! Defendo que um impeachment que seja pressionado desde baixo pode sim, reconfigurar a correlação de forças e criar uma situação um pouco melhor da que temos hoje. Pode gerar uma crise entre as facções da direita e abrir caminho para uma construção popular independente. Precisamos sair do patamar de isolamento e escalar a um novo momento político para ter melhores condições de avançar.

O impeachment não acontecer num passe de mágica, nem pela benevolência de Rodrigo Maia. Como representante da direita tradicional e sócio-menor dependente do capital estrangeiro, Maia só abre impeachment a mando de Washington ou por pressão social irresistível.

Eu prefiro a segunda opção. E ela precisa ser organizada pelos sindicatos, pela UNE, pelos movimentos sociais e todos os setores organizados dispostos a lutar. Esse também pode ser um passo mais sólido na construção de uma frente de esquerda não-eleitoral, com um programa social unitário de emergência.

Remover Bolsonaro não é suficiente para derrotar o fascismo. Mas certamente não é dispensável. A vitória parcial por um impeachment é possível e precisa ser construída em comunhão com as grandes exigências das massas trabalhadoras que agonizam uma morte lenta e sombria.

Em tempos de terra-planismo, vale lembrar que a curvatura da terra só é visível de certa altura, talvez 10mil metros de altitude. Mesmo assim, é possível detectá-la quando objetos distantes no horizonte aparecem encobertos. A vitória está ali, só não podemos vê-la porque ainda não nos elevamos o suficiente.

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