COMBATER A DIREITA GOLPISTA E AS POLÍTICAS DE DIREITA DO GOVERNO DILMA. CONSTRUIR UMA ALTERNATIVA EFETIVAMENTE POPULAR
Nota Nacional do Polo Comunista Luiz Carlos Prestes
“Tem Gente que só compreende a brasa quando ela entranha nas profundezas da carne”. Chico Buarque – Fazenda Modelo, p. 34.
Desde 2003, época da (contra)reforma da Previdência, que o PCLCP faz oposição às políticas “conservadoras” do governo Lula (Voz Operária 8, 2003). Combatemos a política de “ajuste fiscal” desde o início deste Governo Dilma, lutamos contra a proposta de nova (contra)reforma da previdência e denunciamos indignados o apoio do atual governo ao Projeto do Senador Serra que entrega o Pré-Sal ao imperialismo (retirando a obrigatoriedade de participação mínima da Petrobrás). No entanto, é necessário iniciar esta nota pela análise da situação concreta totalizante que envolve as articulações entre setores da burocracia estatal com a conspiração golpista da direita radical.
A “condução coercitiva para depoimento” nesta sexta-feira (04/03) ou, em linguagem mais tradicional, a detenção para interrogatório, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é algo que não tem nenhum cabimento do ponto de vista jurídico. O mandato de “condução coercitiva” é um instrumento para obrigar o cidadão a depor quando este se nega. Lula nunca se negou a depor. Neste mesmo contexto, a PF foi colher o depoimento de FHC na sua residência, gentil e discretamente. No caso do depoimento de Lula “pode haver tumulto”, diz o Juiz; então leva ele “debaixo de vara”!
O caráter “seletivo” do comportamento das autoridades do MPF e da PF – ideológico e partidário, com blindagens de uns e perseguição de outros – é evidente para qualquer observador objetivo. O Juiz Sérgio Moro não tem provas contra Lula, tem uma tese: ele seria o capo de uma quadrilha que se chama PT; a partir deste pré-julgamento subjetivo busca “produzir provas”. Nas suas Entrevistas, Moro chega a defender o vazamento seletivo do que está sendo investigado em segredo de justiça, com o objetivo de “influenciar a opinião pública”. Montou uma agencia de notícias com “parceiros” da grande Mídia. Lula é decretado culpado e tudo é prova: barquinho, pedalinho, etc. Nas instituições ideológicas internacionais “formadoras” de alguns Juízes, Policiais e Promotores da “Lava Jato”, se ensina a doutrina do jurista Carl Smith (colaborador do nazismo), que reduz todas as relações estatais e jurídicas ao esquema “amigo-inimigo”. Para estas instituições o “amigo” é o Estado Imperial estadunidense e “suas” transnacionais. Aliás, segundo denúncia do Wikileaks a esposa de Moro advoga para o PSDB do Paraná e para transnacionais de petróleo: “O fato já seria suficiente para impedir a participação deste Juiz no processo que apura a corrupção na Petrobrás (Operação Lava Jato). O Código de Processo Civil (art. 134) argui o impedimento e a suspeição do juiz: ‘IV- Quando nele estiver como advogado da parte o seu cônjuge ou qualquer parente seu, consanguíneo ou afim (…)’”[1].
Só pessoas ingênuas podem acreditar que a “condução coercitiva” de Lula foi algo “improvisado”. O que se “desvela” na “fase Aletheia” da Lava Jato– cujo nome parece se inspirar na concepção do filósofo nazista Heidegger (verdade = “desvelar origem esquecida”) – não pode ser reduzido ao “exibicionismo autoritário” do Juiz Sergio Moro, às idiossincrasias do diretor-geral da PF Leandro Daiello, etc.. Pelo contrário, se integra num cronograma meticuloso: mais um “lance” da estratégia golpista orquestrada pelas oligarquias do capital monopolista-imperialista. Estas elites do grande capital buscam efetivar uma reciclagem ultra-privatista e fascistizante do Estado, funcional para “reformar” a dominação burguesa diante do “cobertor curto” posto pela crise internacional prolongada. Na realidade, como demonstra István Meszáros trata-se de uma crise estrutural do capital. Uma crise geral: a manutenção do domínio do capital implica um ônus humano cada vez mais caro e regressivo, em todos os aspectos da realidade social. No aspecto econômico, verificam-se o prolongamento das crises cíclicas, suas manifestações cada vez mais destrutivas, com recuperações cada vez mais débeis e curtas, nítida redução da taxa média de crescimento e tendência a tornar-se uma crise crônica (um continuun depressivo, em que uma recessão segue a outra).
As “reformas” desejadas pela direita radical tem por objetivo, como declarou no Congresso o Secretário de Estado John Kerry, recompor a dominação estadunidense na América Latina “nosso pátio traseiro” (www.youtube.com/watch?v=G1-Ovslf7Ew). As táticas são múltiplas: golpes “legitimados” pelo parlamento como em Honduras e Paraguai, guerra econômica (contra a Venezuela). Macri na presidência da Argentina é uma amostra do que significa o ascenso da direita radical: assina em cinco dias 40 decretos de Urgência (DNU) revogando políticas progressistas do governo anterior; viola a Constituição no caso da nomeação dos Juízes do Supremo Tribunal; demite 20 mil funcionários públicos e estimula a demissão em massa nas empresas privadas para “baratear o trabalho”; reconhece créditos abutres (cancelados em 2003 após auditoria) e paga US$ 6,5 bilhões; demite a Direção do Arquivo Nacional de Memória (com mandato até 2019) visando ocultar os crimes da ditadura, expulsa os médicos cubanos e hostiliza a Venezuela, fala em retomar a ALCA, encaminha gigantesco programa de privatização dos setores estratégicos e serviços (não concessões, mas entrega da propriedade), encarcera opositores, reprime greves e protestos populares a bala.
Para a direita radical as tímidas “concessões” (na visão conservadora “quem concede não cede”) aos trabalhadores e ao povo pobre teriam se tornado algo “desnecessário” e “inconveniente”. É claro que todos os aspectos substanciais do que as elites consideram “concessões”, são na realidade: direitos democráticos e garantias sociais, conquistas do movimento proletário e popular impostas aos “de cima” nas duras condições da luta antiditatorial e contra o neoconservadorismo que lhe seguiu.
A transformação capitalista no Brasil ocorreu: sem democratismo plebeu e radical triunfante, sem uma efetiva transformação de caráter nacional-popular, sem reforma agrária e com um processo de urbanização deformado e desordenado. A industrialização gerou um proletariado numeroso e socialmente majoritário, mas caminhou submetida ao aprofundamento da dependência ao imperialismo. Este processo histórico – diferente das revoluções burguesas clássicas – formou um tipo de estrutura capitalista específica, cujas características essenciais foram expostas por Florestan Fernandes: constituiu uma “ordem social autocrática” e um “Estado autocrático burguês”. Assim como a restrita abertura “trabalhista” do Estado no Brasil pré-1964 aguçou contradições na ordem autocrática (que reagiu com a “contrarrevolução preventiva” militarizada); a restrita democratização formalmente promulgada pela Constituinte de 1988 nunca eliminou as bases econômico-sociais da ditadura, nem sequer: a militarização e tecnocratização do Estado e os aparatos de repressão e espionagem. A dominação do bloco de poder formado pelo imperialismo-monopólios-latifúndios (profundamente associados entre si) precisava reciclar-se. Diante da crise da ditadura, o “poder militar” e demais “próceres” do bloco de poder dominante optam por “dar os anéis para não perder os dedos”: realizam a autodenominada “transição democrática”, mantendo sempre “salvaguardas” para restringir a participação organizada dos trabalhadores e das massas populares.
Sem dúvida é necessário combater a gigantesca corrupção, que é estrutural neste país. É obvio que esta estrutura não nasceu com os governos do PT. Ela tem sua gênese ao longo do século XX, produzida pelas relações promiscuas do imperialismo e das grandes empresas capitalistas com o Estado. Atingiu seu paroxismo durante o período ditatorial: os monopólios se organizam no seu Estado autocrático, como estrutura essencialmente corrupta. A corrupção envolve, sempre, corruptores: transnacionais e monopólios “internos” (empreiteiras, bancos, grande Mídia, etc.). A grande “modernização” da corrupção ocorreu durante o consulado de FHC. A ação direta sobre o comando político sofisticou-se, mediante o financiamento empresarial das campanhas eleitorais que quase todos partidos praticam (com exceção do PSOL, PCB e PSTU). A privataria tucana conduzida por FHC e José Serra entregou nossas empresas estatais estratégicas para o capital financeiro a preços de banana; depois de ter investido na modernização destas empresas (só aumentou a dívida estatal). Ex-professores e burocratas tucanos se tornaram banqueiros, ou titulares de contas bilionárias nos paraísos fiscais. O consórcio PSDB-DEMO inventou também o esquema de compra de parlamentares usando o caixa 2 eleitoral (“mensalão”). Tudo isto, foi investigado e comprovado pela Polícia Federal e Ministério Público, mas ninguém foi punido.
O caráter seletivo – não só “de classe”, mas partidário – da ação do Judiciário e da Polícia Federal é algo evidente. No entanto, questões candentes se impõem. Por que os governos do PT não romperam radicalmente com tudo isto? Por que não criaram instituições e ferramentas contundentes de enfrentamento destas práticas? Por que um governo federal Petista transformou uma figura como Delcídio, operador da Petrobras durante os governos do PSDB, no seu líder no senado?
O combate à corrupção em sociedades dominadas pelo capital é algo difícil e complexo. O crime de corrupção é algo pessoal, envolve a responsabilidade direta do corrupto (ativo ou passivo). Todas as práticas corruptas e criminosas de políticos e governantes devem ser apuradas e punidas: nos marcos de uma legalidade democrática, sem seletividade partidária e sem facciosismos subordinados a interesses inconfessáveis.
Não criticamos o PT por incapacidade de erradicar a corrupção: isto exige um longo processo de transformações sociais radicais que não está ao alcance imediato da mera vontade política. Aos dirigentes petistas podemos reprovar – na medida em que “reprovações” desempenham um papel na política emancipatória – o seguinte: 1) não ter elaborado um programa consistente de reformas, orientado para elevar de modo consistente o nível de vida das massas; combinado com o favorecimento de uma dinâmica progressista em que o movimento popular pudesse elevar seu nível de organização e consciência, fortalecendo-o na preparação de condições para seguir avançando rumo à liquidação do poder dos monopólios e do imperialismo; 2) por sua prática política não enfrentar imposições do bloco de poder hegemonizado pelo imperialismo e, consequentemente, não limitar radicalmente a corrupção política inerente à dominação dos monopólios, mas ao contrário se alimentar desta e nutri-la com políticas (pseudo)-desenvolvimentistas que lhe são funcionais; 3) por implementar as contra-reformas exigidas pelo grande capital e contrárias aos interesses proletários e populares, apresentadas por seus dirigentes comprometidos com o “possibilismo conservador” ou “falso realismo” (BORON 2008: 79-82) como as únicas viáveis, fabricando uma “falsa consciência” que desorganizou e desmobilizou o movimento de massas por ele influenciado. É verdade que nunca tivemos ilusões com o PT. Luiz Carlos Prestes declarou antes da eleição presidencial de 1989 que “hoje não existem partidos de esquerda no Brasil”, o “líder do PT [Lula]” aderiu à “mesma orientação do PCB” (do então CC de Roberto Freire), isto é, às mesmas ilusões no desenvolvimento “capitalista democrático” (Discurso no Centro Cultural Lombardo Tolentano, México, 30/10/1988, apud: Prestes, Anita – LCP: O Combate por um Partido Revolucionário, 2012: 319).
O PT nunca teve uma identidade socialista firme – em termos teóricos, ideológicos e programáticos – mas tinha, por outro lado, vínculos com o movimento proletário e popular organizado e fazia oposição às políticas da direita radical. Sua programática envolvia reformas democráticas progressistas; mas padecia de grande confusão e indefinição estratégica. A concepção mais difundida guardava certas semelhanças com os alvos do “Welfare State” da socialdemocracia europeia do imediato pós Segunda Guerra. Adiferença (crucial) é que o PT não atua num país imperialista, mas pelo contrário, num país capitalista dependente. É claro que a socialdemocracia, adulterada para servir ao imperialismo e integrar-se ao Estado monopolista-militarista, não perderia na periferia seu caráter de capitulação dos trabalhadores ao despotismo do capital. Além disso, o momento histórico é radicalmente distinto. Com a crise estrutural do capital a “reforma capitalista do capitalismo” de tipo socialdemocrata deixou de ser viável até nas metrópoles; já na periferia ela não tem nenhuma viabilidade: não contará com o afluxo de mais-valia proveniente dos países dependentes que permitiu, no período anterior, o surgimento do chamado“complexo social-industrial”.
Reconhecemos que houve algumas políticas positivas dos governos petistas, que elevaram durante algum tempo o poder de compra do salário mínimo. A situação do povo pobre recebeu algum alívio com as “políticas compensatórias”; mas foram migalhas se compararmos ao apoio estatal ao grande capital. No fundamental os governos petistas deram continuidade ao conservadorismo pró-imperialista dos governos anteriores, abandonaram a reforma agrária, sabotaram as iniciativas de auditoria da dívida externa, etc. A crise de 2008 foi enfrentada pelo Ministério de Guido Mantega com políticas keynesianas anticíclicas, distintas do monetarismo “neoclássico” a gosto dos “rentistas” e da direita radical. O governo Lula diminuiu as despesas com juros, reduziu o superávit, aumentou o investimento público e estimulou a produção e “demanda”. Por outro lado, nunca realizou sequer uma reforma tributária progressiva, taxando as grandes fortunas e as transnacionais e subindo a alíquota de isenção: os impostos incidem principalmente sobre a grande massa do povo trabalhador que são descontados na fonte, além dos regressivos impostos indiretos: segundo o IPEA 10% das famílias mais pobres gastam 32% da sua renda em impostos, enquanto a faixa de 10% mais ricas só 21%.
Com a crise econômica prolongada e a queda dos preços dos produtos primários (agropecuários e minerais) de exportação; o tímido reformismo conservador do PT se esgotou. Ainda antes de começar seu segundo mandato, o governo Dilma passou a adotar as propostas mais antipopulares que seus adversários tiveram condições políticas de apresentar na campanha eleitoral. O pacote do ajuste fiscal, o encaminhamento da lei antiterror (num país que não tem terrorismo e que visa claramente criminalizar as lutas populares), a escolha de um ministério ultraconservador, a ameaça de mais um ataque aos direitos previdenciários. Por fim, diante da pressão da direita, a mais grave capitulação de um governo federal petista: o acordo do Palácio do Planalto com a proposta do senador José Serra (PSDB) para modificar as regras de exploração do pré sal. O governo Dilma – contando com votos suficientes para impedir a aprovação do projeto pró-imperialista e contra a posição (e o voto) dos senadores do seu partido – autorizou a ala governista do PMDB a negociar com o PSDB o fim da obrigatoriedade de participação da Petrobrás em todas as explorações do petróleo do pré sal. Isso significa entregar o pré-sal para os monopólios internacionais, sem a menor possibilidade de controle da empresa brasileira que deveria ser soberana no setor.
Estas posições políticas do governo Dilma, cedendo a todas as pressões e chantagens do bloco de poder dominante, só a enfraquece e desmoraliza diante de sua base social e eleitoral de apoio. Não impedem a direita radical de avançar, reforçando a articulação do golpe de Estado mediante impeachment. A presidente está cavando o fim do seu próprio governo: cede a tudo que a direita exige, mas não diminui o ímpeto golpista desta direita; e, ao mesmo tempo, justamente por atacar direitos dos trabalhadores e dos pobres em geral, inviabiliza a defesa de seu governo por parte das amplas massas populares. Ou seja, Dilma se afasta justamente dos setores que poderiam garantir seu mandato, e se isola cada vez mais.
Os acontecimentos das últimas semanas foram coroados com a detenção para interrogatório do ex-presidente Lula no âmbito da chamada “Operação Lava Jato”. Se ainda não estava suficientemente claro para muita gente, com a ação do último dia 4 uma parcela maior da população percebeu – pela desproporcionalidade da ação, pela parcialidade, pela seletividade de alvos da investigação – que a operação lava jato, por seus propulsores principais, procurador e juiz, é uma peça inquisitória destinada a desmontar, inicialmente, as forças políticas protagonistas do governo federal encabeçado pelo PT. E não querem apenas elementos para justificar o impeachment de Dilma: pretendem desmontar a possibilidade de uma nova eleição de Lula.
É claro que sempre apoiamos e seguiremos apoiando o combate à corrupção, de forma que todos os que forem, mediante provas materiais irrefutáveis, considerados culpados, devem, sim, pagar suas penas na forma da legislação vigente. Repudiamos a seletividade discricionária e o abuso de autoridade como forma de tentar aniquilar adversários políticos. Até agora não há provas concretas contra Dilma. Os termos usados pelas autoridades, com massiva divulgação nos meios de comunicação, deixam claro que não estão investigando alguns (ou vários) dirigentes do partido governante: sentem uma compulsão indisfarçável de criminalizar o partido inteiro. Esse tipo de comportamento da extrema direita era muito comum no início da chamada Guerra Fria, quando, em 1947, o PCB foi posto na ilegalidade, assim como no período pré-golpe de 1964, que levou, no ano seguinte, ao fechamento de todos os partidos.
Estão, porém, enganados os setores da oposição de esquerda que se abstém da luta contra o golpismo e consideram que o problema só atinge os partidos que compõem a base de apoio do governo federal. É fato que estamos diante de uma ofensiva vigorosa da extrema direita, uma ofensiva que não se situa apenas no Brasil, que já apresenta sua face no atual governo da Argentina, que atua há mais de uma década de forma aberta na Venezuela, no Equador, na Bolívia. As revelações do Wikileaks só comprovam a participação conspirativa do “grande irmão” do Norte, já evidente pelos seus efeitos. A criminalização atual está concentrada sobre o Partido dos Trabalhadores e seus dirigentes porque é o partido que está no governo, porque é o que tem mais inserção social. É verdade que as fragilidades e erros do PT ajudam seus inimigos da direita golpista empenhados em desmoralizá-lo; e não ajudam a oposição de esquerda disposta a ajudá-lo na resistência ao golpe.
No entanto, cometem um erro os setores de esquerda que colaboram passiva ou ativamente com a derrubada e destruição do PT, ao invés de cerrar fileiras com todos o que estão dispostos a enfrentar e derrotar a direita fascistóide. O PT não é de esquerda, ainda que existam socialistas e militantes populares sinceros que o apoiam. A história, inclusive a história recente, mostra que na América Latina não é necessário que um governo seja socialista ou revolucionário para ser alvo da ação golpista da direita radical. Basta ser considerado não suficientemente “obediente”, ou de alguma forma “inconveniente” diante dos interesses do imperialismo e dos monopólios. É óbvio que o alvo dos inquisidores incrustrados na burocracia do Judiciário e da Polícia Federal – eivados por visceral conservadorismo e por fanática mentalidade colonizada pelo imperialismo – são: todos os setores de esquerda, as organizações proletárias e populares, os movimentos em defesa dos oprimidos (mulheres, negros, indígenas, LGBT).
A reação da direita não é apenas (nem essencialmente) contra o governo do PT e contra alguns dirigentes do PT. A esquerda precisa se colocar a seguinte questão: a reação da extrema direita não quer mais aceitar e “tolerar” sequer um governo do PT, mesmo com todo seu oportunismo, sua conciliação de classe, seu projeto político (na melhor das hipóteses) “timidamente reformista”. Eles querem um governo em que as políticas compensatórias dos governos do PT (com cada vez menos recursos) deixem de existir por completo, um governo que não coloque nenhum obstáculo à sanha da exploração predatória dos recursos naturais, um governo que não fale da existência de trabalho forçado (sem nenhum direito), que não tenha nenhuma política de proteção às mulheres, aos negros, aos indígenas, à população LGBT, um governo que privatize absolutamente tudo, sem exceção. É este o governo que os defensores do “fora Dilma” querem. Que ninguém se iluda, e nem busque iludir.
Os propositores da detenção para interrogatório do Lula sabem que não dá para executar o seu programa de governo, e menos ainda a sua proposta de sociedade, onde existir organização popular capaz de resistir. Imediatamente após a derrubada do governo do PT, seguirá a desqualificação dos líderes de maior apelo de massas, das próprias organizações populares. Partidos e organizações políticas da oposição de esquerda poderão ser caçados e cassados (se for preciso). Portanto, nenhuma organização e nenhum militante de esquerda podem se imaginar isentos de responsabilidade neste momento. A extrema direita não está nos vingando da conciliação de classe dos governos encabeçados pelo PT, e sim castigando as parcas políticas compensatórias. Essa direita dura e crua não respeitará os direitos populares conquistados. A extrema direita buscará eliminar a liberdade dos militantes de esquerda empenhados e organizar as bases populares da resistência contra o governo reacionário que pretendem realizar. Esta direita extremista – com suas concepções e métodos fascistizantes – por diversas vezes já mostrou as desumanidades de que é capaz, já mostrou como “trata” seus opositores, todos eles.
Portanto, é necessário tomar posição contra a ofensiva da extrema direita. Repudiar o golpismo, organizar as bases proletárias e populares, combater toda forma de abuso de poder, de violência dos opressores (mais aberta ou mais velada) e de assédio dos “de cima”; sejam eles patrocinados pelo Estado autocrático ou por forças reacionárias privadas, pela grande Mídia monopolizada ou por partidos reacionários, por fundamentalistas fanáticos ou milícias neonazistas. Ao mesmo tempo, os setores populares em geral, incluindo os identificados com o petismo, precisam organizar a luta contra as políticas de direita do próprio governo. É necessário firmeza quando se trata de defender direitos. Organizar e mobilizar as massas de nosso povo. Utilizar todas as formas de luta adequadas. Ir à luta, tomar as ruas para resistir às retiradas de direitos e para impor avanços efetivos na conquista do que interessa à classe trabalhadora e ao povo pobre. Se conquistarmos a auditoria da dívida, por exemplo, se disporá de amplos recursos para garantir e ampliar direitos populares e elevar o nível de vida das massas.
Não se trata de defender o governo Dilma, que a cada dia merece mais críticas, e sim de evitar um mergulho no obscurantismo. A extrema direita quer se apossar de todas as instituições do Estado para fazer delas aparatos de combate aberto às organizações populares e suas pautas de reivindicação. Não se trata de defender Lula, e sim de combater a perseguição política contra um líder que o conservadorismo mais irracional quer eliminar por vê-lo como ameaça aos seus planos extremistas. Nós permaneceremos inquebrantáveis na defesa da autonomia de classe do movimento proletário, o que implica a luta constante pela independência política. É fundamental enfrentar a direita reacionária agora, nas ruas e em todos os lugares: justamente porque queremos manter e ampliar as liberdades; elevar o nível de organização, consciência e mobilização do povo para a transformação da sociedade brasileira; construir um bloco histórico proletário e popular que possa se organizar como poder que abra caminho para o socialismo. Não nos deteremos em posições defensivas. A força conquistada na luta bem sucedida na defesa das organizações e liberdades do movimento proletário e popular deve servir como plataforma de lançamento da luta por soluções mais avançadas e duradouras para a crise da ordem vigente autocrática e opressiva.
O Polo Comunista Luiz Carlos Prestes se coloca à disposição para ajudar a construir todas as lutas que tenham por objetivo impedir o avanço da extrema direita. O que inclui, é claro, estabelecer relações multilaterais ou bilaterais com todas as outras organizações políticas e todos os partidos dispostos a participar destas lutas. Não nos enclausuramos no nosso campo das organizações da oposição de esquerda ao governo. Buscamos unidade na luta contra a direita também com todas as organizações políticas de origem popular do campo petista, desde que entendam que não é na postura de defesa acrítica de Dilma (ou de Lula) que se pode ampliar a mobilização popular. É preciso combater a extrema direita e sua política golpista, assim como combater todas as políticas de direita do governo.
Consideramos que os seguintes eixos de luta devem estar presentes numa plataforma capaz de aglutinar as forças populares nas mobilizações das próximas semanas:
– Contra a Reforma da Previdência;
– Em defesa do Pré Sal e da Petrobrás 100% pública e estatal. Repúdio ao acordo entre Governo e PSDB para tirar a Petrobrás da exploração do Pré Sal;
– Não ao Ajuste Fiscal e qualquer corte nos gastos sociais;
– Contra a Lei Antiterrorismo, pois só afetará as organizações populares;
– Em Defesa dos Empregos e dos Direitos dos Trabalhadores;
– Fora Cunha;
– Contra o Impeachment;
– Repúdio à perseguição política seletiva, parcial e abusiva feita por alguns integrantes do MPF, da PF e do Judiciário.
POLO COMUNISTA LUIZ CARLOS PRESTES
DIREÇÃO NACIONAL
7 de Março de 2016.
[1] Cf. cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Sergio-Moro-um-juiz-a-servico-da-TV-Globo-e-do-PSDB/4/33770