Manifesto dos Comunistas com Lula

Manifesto dos Comunistas com Lula

Nós, comunistas que apoiamos a candidatura de Lula, expressamos nossa posição com o intuito de manifestar nossa unidade, não por um suposto pragmatismo, mas a partir de uma análise séria da situação concreta que considera os nexos entre a estrutura da formação social brasileira e as tarefas mais imediatas do povo trabalhador de nosso país. Compreendemos que é fundamental a manifestação e organização, por todo o país e nos mais diferentes níveis de atuação conjunta, dos comunistas que assumem desde o primeiro turno a posição de eleger Lula e, assim, contribuir para a formação de um bloco popular e proletário contra-hegemônico capaz de combater o imperialismo e a burguesia interna.

No Brasil e na América Latina ocorre, pelo menos desde meados de 2014, a transição e o acirramento radical da política burguesa e imperialista, que hoje constrói e possibilita, como resposta para a crise mundial, o financiamento e articulação da ascensão do fascismo em nível internacional. Em nosso país, o antigo “bipartidarismo” entre PSDB e PT garantia certa estabilidade para a exploração das massas e a manutenção de uma democracia restrita. Entretanto, essa mesma forma de organização da política burguesa também coexistia com derrotas importantes para o imperialismo: no plano internacional, exemplos como a ALCA, a articulação do BRICS, as iniciativas e projetos cooperação Sul-Sul; e, internamente, a retomada e crescimento dos movimentos grevistas, o crescimento dos movimentos sociais como MST e MTST, e também de partidos e organizações comunistas. Atualmente, frente a crise mundial e o estágio avançado de degradação do capital em crise permanente, a burguesia entrou em conflito interno, e prevalecem as suas frações mais agressivas e irresponsáveis: fascistas e de extrema direita, que atuam com o objetivo de exterminar as condições de organização do povo e da classe trabalhadora, e implementar uma ditadura policialesca aberta do capital financeiro; em nosso caso, militar e miliciana.

No Brasil, o que chamamos de democracia e Nova República, foi um pacto das elites construído como alternativa à forma de dominação da ditadura militar; uma maneira de preservar o controle burguês e a repressão aos movimentos populares que ascendiam novamente após a derrota do PCB, movimentos guerrilheiros e populares. As Forças Armadas, porém, nunca deixaram de se situar enquanto um Quarto Poder, acima dos demais, e atuar enquanto uma força de tutela da democracia brasileira, tendo nas forças de segurança os principais agentes da contrarrevolução permanente nas periferias e rincões do Brasil.

Por este motivo, é fundamental organizar e fortalecer todos os setores do campo popular e revolucionário, que são aqueles que realmente possuem interesses contrários à política das classes dominantes, e que podem impulsionar um vigoroso movimento de massas nas ruas, associações de bairro, sindicatos e universidades. E, dessa forma, colocar em marcha e sob a direção da vanguarda da classe trabalhadora, os setores dos explorados e oprimidos em defesa de seus direitos e liberdade. Somente um amplo movimento de massas, construído nas bases e com o permanente trabalho para elevação da consciência do povo, poderá pôr fim à essa democracia seletiva e parcial, que para a maioria do povo brasileiro nunca garantiu de fato os direitos previstos na Constituição de 1988.

Entendemos que a candidatura de Lula e seu arco de alianças e prioridades possui muitos problemas. A insegurança que gera a ausência de um programa claro de combate à crise e elevação das condições de trabalho e vida da nossa classe, somada à priorização de alianças e acenos à suposta “burguesia nacional” são importantes entraves para mobilização das massas e elevação do seu nível de consciência. Mas a candidatura Lula e sua capacidade de mobilização e articulação dos movimentos sociais e sindicatos transcende em muito a simples soma dos partidos e movimentos que lhe apoiam. O programa de Lula, por mais limitado que possa ser, possui contradições fundamentais com o projeto de espoliação e ditadura do imperialismo estadunidense e a burguesia interna para nosso país. Cada vez que Lula apresenta que há um setor inimigo, e que existem interesses diferentes entre as classes, abre espaço para debate e elevação do nível de consciência de nossa classe, que pode e deve ser explorado por comunistas resolutos e consequentes, que façam críticas fraternas aos limites da chapa Lula-Alckmin, mas que na luta pela eleição de Lula busque preparar o povo para as lutas que virão durante e após as eleições.

O sucesso e tamanho das batalhas presentes e futuras, sem dúvida, serão o fiel da balança de um resultado eleitoral positivo ou desastroso. Apesar de no Brasil raramente as eleições serem o momento mais decisivo da luta de classes, como vimos em 1961-1963, 2014-2016, e muitos outros exemplos da nossa história, as eleições burguesas podem contribuir ou atrasar profundamente a auto-organização dos trabalhadores. Uma vitória de Bolsonaro daria um fôlego gigantesco ao movimento fascista latino-americano, e imprimiria uma derrota profunda nos movimentos populares, partidos de esquerda, trabalhadores em geral e até em setores da burguesia que apostam e dependem da retomada da estabilidade “democrática” para auferir seus lucros.

Eleger Lula, se possível no primeiro turno, e fortalecer sua posição eleitoral, é fundamental para coibir intentos golpistas e mobilizar os setores do bloco contra-hegemônico brasileiro. Esta eleição, e a candidatura de Lula, passaram a representar muito mais do que seu recuado programa, mas sim, a luta pela autodeterminação do povo brasileiro e auto-organização em torno dos seus interesses. Se Lula for eleito com grande apoio popular e um movimento de massas unificado, que avance em sua capacidade de organização e propaganda das suas pautas, qualquer tentativa de sabotagem ou derrubada deste resultado (no primeiro turno, no segundo ou após a posse), ampliará a possibilidade de mobilização para defender seu governo e os interesses da classe trabalhadora, podendo absorver e mobilizar inclusive setores que não participaram de nenhuma forma do processo eleitoral e das instituições burguesas, ou mesmo só não votaram em Lula.

Neste momento, candidaturas próprias se apoiam em uma “normalidade democrática” que não está garantida, e apostam numa diferenciação programática “a frio”, em que, na ausência de grandes mobilizações, o processo de elevação do nível de consciência e organização do povo contra o fascismo fica em segundo plano, dando lugar à rusgas ou debates virtuais descolados da esmagadora maioria do povo trabalhador. Por isso, entendemos que a melhor candidatura não é aquela que expressa simples e idealmente as melhores posições, mas aquela que constrói condições mais vantajosas para a luta de classes e a derrubada da autocracia burguesa. É ruim que não haja uma candidatura eleitoralmente viável e consciente da estrutura autocrático-burguesa do Estado brasileiro e suas determinações fundadas no capitalismo dependente. É pior que nessas eleições os comunistas não formem um bloco coeso e consequente de revolucionários com Lula desde o primeiro turno, pois isso poderia também ampliar a capacidade de imprimir posições mais avançadas na campanha de massas contra o fascismo.

Se, primeiramente este manifesto tem simples função de propagandear a existência de um setor com uma posição radical dentro de uma candidatura de massas; tem, por objetivo posterior, contribuir para a conformação de um elo tático inicial para intervenção na conjuntura política do país, que abre uma oportunidade para um debate público fraterno e de auto-esclarecimento e identificação entre as bases e direções das respectivas organizações, mandatos e os militantes individuais que assinam este documento.

Estamos juntos na luta contra o fascismo e pela construção de uma democracia ampla e radical que abra caminho para o socialismo.

Polo Comunista Luiz Carlos Prestes, setembro de 2022.

2 comentários sobre “Manifesto dos Comunistas com Lula

  1. Sou petista e fiz inúmeras formações comunistas.

    Parabéns aos comunistas.

    Vamos eleger Lula, preferencialmente no primeiro turno.

    Depois nos unimos para derrotar de vez o fascismo!

  2. Sou PCB e vou votar em Sofia Manzano, me incomoda muito a limitação do programa de Lula, ou a falta de um programa claro, para ser mais exato. Obviamente prefiro o Lula eleito no lugar de bolsonar, mas se o Lula não sinalizar para nós comunistas em nenhum momento, ele não terá meu voto. Lula não fala de reforma agrária, revogação das reformas, reestatizacoes, etc. Para alem disso, ao final dos mandatos petistas (Ao contrário do que vocês alegam) o movimento sindical, estudantil e a mobilização geral da classe trabalhadora eram todos BEM MAIS FRACOS que no período anterior, e isso também me incomoda. Estou decepcionado com Lula e o PT, não construiremos a revolução sob a asa petista. 2 de outubro é 21.

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