Renova BR – Novas embalagens para antigos interesses

Renova BR – Novas embalagens para antigos interesses

“Novas embalagens para antigos interesses, é que o anzol da direita fez a esquerda virar peixe”, diria Criolo.

Não é novidade que as classes dominantes sempre buscam se reinventar para manter e defender o domínio que têm sobre as ideias do povo em geral, com isso controlando e rebaixando o horizonte de exigências políticas, econômicas e sociais do povo trabalhador. Novas formas e roupagens para convencer jovens e setores descontentes a permanecerem no mesmo processo de empobrecimento para a acumulação de riqueza e de domínio político da minoria dos ricos em nossa sociedade.

Este processo não é peculiaridade do momento histórico que vivemos. Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, e até Bolsonaro se apresentaram para o povo em geral como “novidades políticas”, figuras que propagandeavam a mudança de “padrões corrompidos de disputa do poder”, a “limpeza e moralização dos poderes da república”. Não poucas vezes o mesmo discurso tende a tentar “superar a polarização entre esquerda e direita”, “combater a polarização da sociedade”, “fazer política com diálogo e democracia”. Nada mais mentiroso. Na verdade, a história de nosso povo conta apenas com um gosto fraco de liberdade política e de direitos democráticos; e com um amargor forte de violência e dominação, mesmo nas últimas décadas. Todas essas figuras políticas nacionais que compraram essa discussão contribuíram à sua maneira para a manutenção da estrutura de dominação e exploração do nosso povo. Destruindo e vendendo o patrimônio público, carrasqueando direitos políticos e econômicos, desvalorizando o salário, buscando destruir a educação pública, praticando o genocídio com o povo preto e pobre ou mantendo um conjunto de estruturas de dominação e amordaçamento político do povo brasileiro.

Fato é que as classes dominantes precisam reciclar e formar novos nomes e figuras para dirigir e articular seus interesses no seio da sociedade civil e da sociedade política (dentro das instituições de Estado, grosseiramente falando). E em momentos de grande desgaste dos quadros “históricos” da direita, (vide Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra, ou outros), iniciativas novas ocupam lugar de destaque. Na cena nacional, as iniciativas RenovaBR, Acredito e RAPS são algumas dessas articulações políticas, fortemente financiadas direta ou indiretamente pelo capital financeiro internacional e representantes de monopólios e do agronegócio que operam no Brasil para “renovar a política brasileira”.

Estas iniciativas atuam em diversas frentes e inclusive em espaços tradicionais de formação de quadros como o movimento estudantil, disputando e organizando DCEs junto a organizações do campo majoritário da UNE; mas possuem diferentes formas e prioridades de atuação. Neste texto em específico queremos apresentar como a articulação RenovaBR age e quais os desdobramentos políticos concretos de sua intervenção na política nacional.

Segundo a própria página do RenovaBR (www.renovabr.org), a articulação seria “uma escola de educação política que prepara pessoas comuns de diferentes origens e ideologias para renovar a democracia brasileira”. A organização se estrutura através de um conselho operativo, um conselho consultivo, equipes de professores e a articulação dos próprios “alunos” que estabelecem vínculo com a iniciativa. A despeito da propaganda, a organização seleciona através de processo seletivo interno quais são os sujeitos aptos a integrar seu curso de formação e demais iniciativas. No entanto o RenovaBR não oferece apenas um curso, ele também produz seminários e momentos de formação continuada juntando uma miríade de políticos reacionários, conservadores e fascistas para educar os jovens que ingressam no clube – além de articular e aproximar esses jovens às redes de financiamento dos grandes monopólios, do capital financeiro internacional e dos empresários agrícolas para suas campanhas à cargos públicos eletivos.

Na prática, a articulação funciona como um partido, com programa e política definido, que homogeniza e unifica um conjunto de quadros políticos que hoje se encontram em diversas siglas partidárias sem lastro ideológico junto de militantes de partidos de esquerda e apresentam o “novo normal” ou “novo mainstream” das políticas públicas “internacionalmente indicadas” para países capitalistas dependentes, como é o nosso caso, sob roupagens “liberais e progressistas”. 

Na prática, o “liberalismo progressista” fica evidente quando “alunos” do RenovaBR defendem políticas:

1) Pseudo-liberais (chamadas de neoliberais) em nível econômico. Defendendo o enxugamento do maior número possível de verbas sociais e de garantias de direitos de forma estatal e pública. Passando a responsabilidade da educação pública à iniciativa privada, como é o caso das propostas de “voucher educação” que Tiago Mitraud, deputado federal pelo NOVO-MG e liderança do RenovaBR, defende. Soma-se a isso a defesa intransigente e cega do superávit primário e aumento da dependência da indústria estrangeira, em detrimento da nacional em defesa dos interesses estrangeiros, expressos por exemplo, no conjunto dos debates ao redor da chamada “autonomia do Banco Central”, que acabou por desvincular o controle sobre a política monetária e de juros do poder executivo nacional; essa proposta teve apoio de Tabata Amaral, deputada federal pelo PDT-SP e também liderança do RenovaBR. Muitos alunos da RenovaBR estão também na vanguarda da privatização dos Correios, do setor energético, entre outros patrimônios do povo trabalhador brasileiro.

2) Neo-conservadoras. Com discursos de renovação, perpetuam, atualizam e conservam as mesmas estruturas de dominação do bloco de poder dominante em nosso país, sem prestar qualquer verdadeira renovação política que signifique constituição de dignidade, liberdade, justiça e independência para o povo brasileiro em geral. Conservam e aprofundam a dependência brasileira aos monopólios estrangeiros; conservam e ampliam a extração de riqueza do trabalhador brasileiro em defesa das taxas de lucro dos monopólios em geral. Conservam e alargam a dominação do latifúndio, da recolonização nacional e do projeto de reprimarização da economia brasileira. Não possuem qualquer discussão ou projeto de reorganização do combate à violência tendo em vista a dominação política, militar e territorial das chamadas “forças de segurança pública” nos territórios operários, nas favelas e comunidades pobres, especificamente à sangria centenária promovida contra as populações negras e indígenas no Brasil, além da contrapartida cultural desta dominação. Todas essas faces ao mesmo passo que se apresentam sensíveis à algumas exigências mínimas de reconhecimento humano e de dignidade social ao direito das mulheres e das populações LGBT.

3) Protofascistas. O que fica evidente quando o RenovaBR apresenta o deputado estadual fascista Bruno Souza (NOVO-SC) como professor de “fiscalização no legislativo” da escola. A mesma figura que está repetidamente na linha de frente da agressão ao sindicalismo catarinense, ao movimento estudantil, e que se apresenta como “guerreiro da liberdade contra os esquerdistas”; ou seja, uma espécie de Capitão América, com gel no cabelo e escolhas estéticas questionáveis, dos interesses terroristas do imperialismo na sociedade brasileira. Não demonstram concretamente qualquer preocupação com a perseguição aos movimentos sociais ou ao fechamento das liberdades democráticas. Pelo contrário, adentram de forma oportunista partidos progressistas e por dentro buscam desmantelar a política partidária, cindir e confundir as bases desses partidos (Bruno Souza foi do Partido Socialista Brasileiro, e Tábata Amaral do Partido Democrático Trabalhista).

E tudo isso pois estão muito bem financiados por grandes empresários a nível internacional e monopólios que operam na bolsa de São Paulo com participação decisiva do mercado financeiro internacional. A exemplo: o conselho consultivo do RenovaBR é composto com figuras como – O dirigente dos planos de saúde privados Amil; a dirigente da fintech Nubank; o financista herdeiro da empresa VR comprada nos últimos anos pela francesa Sodexo, empresa da qual participa; dirigentes ligado aos fundos Lemann/AMBEV; o rentista proveniente do ramo da indústria da celulose Wolff Klabin; o dirigente da indústria de turismo CVC; Luciano Hulk, dentre outras joias da política nacional conservadora e reacionária. Também são financiadores da iniciativa um extenso conjunto de empresários ligados ao partido Novo e à Brazil Foundation – organização que reúne celebridades nacionais e internacionais “com preocupações com a justiça social no Brasil”, financiada pelo Itaú, dentre outros bancos.

Atualmente o RenovaBR tem pouco mais de 160 “alunos” eleitos em cargos públicos, alguns deles inclusive de partidos historicamente de esquerda, e tem ocupado espaço privilegiado na mídia monopolista como representantes do “progressismo” e muitas vezes da “oposição consequente à Bolsonaro”. Não nos enganemos, diferenças superficiais e meias palavras de dignidade para as parcelas especificamente dominadas e exploradas de nosso povo historicamente não apagam as convergências desses movimentos com a política de fome, miséria, desemprego e espoliação de Bolsonaro e Paulo Guedes, e do projeto do imperialismo. Afinal, é justamente o projeto do imperialismo que carregam essas iniciativas.

Combater as roupagens falsas de grupos como RenovaBR em todas as trincheiras de luta do movimento popular, na opinião pública e dentro das organizações de esquerda é uma das tarefas urgentes do povo trabalhador brasileiro para construir independência política e ideológica e vencer as influências do inimigo, dos ricaços, dentro das nossas fileiras. Renovação de verdade é construir condições para que as diferentes partes exploradas de nosso povo construam uma unidade ao redor de um projeto de país soberano, que lute contra a miséria, o aprofundamento da dependência, e a defesa intransigente da vida e da dignidade de nosso povo. Novidade na política nacional se encontra na força da mobilização do povo trabalhador pela constituição de um poder verdadeiramente proletário e popular, que nos liberte da dominação estrangeira e abra caminho para a liberdade concreta do nosso povo, superar a miséria, a chacina, a violência e a desumanização no caminho concreto para o socialismo.

Marco Antônio, militante da Juventude Comunista Avançando

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