Milton Santos 94 anos – Uma vida dedicada a uma geografia nova

Por: Mateus Engel Voigt

Milton Santos nasceu em 1926 em Brotas de Macaúbas na Bahia, formando-se em direito pela Universidade Federal da Bahia em 1948. Apesar disso, é na Geografia que Milton trilhará seu caminho intelectual, deixando vasta e rica contribuição teórica às ciências humanas e sociais, dedicando-se na construção de uma Geografia nova. Para ele, a Geografia servia para “esconder o papel do Estado bem como o das classes, na organização da sociedade e do espaço”, criticando a influência dos pensamentos positivista e tecnicista que predominaram na Geografia até a década de 1960, buscando apresentar o papel social dessa ciência e como ela serve para explicar a realidade – debruçando-se sobre o estudo do Brasil e de outros países “terceiro mundistas”. Exilado durante a ditadura civil-militar, Milton Santos lecionou em universidades da França, EUA, Canadá, Venezuela e Tanzânia.

Hoje, com a hegemonia do pós-modernismo nas universidades, marcado por um anti-marxismo, tenta-se reescrever o legado de Milton Santos e apagar a influência que o geógrafo baiano recebeu de Marx, Engels, Lenin, Gramsci, Lukács e outros teóricos marxistas. Influência que o próprio Milton reconhece no documentário “O mundo global visto do lado de cá” de Silvio Tendler (https://www.youtube.com/watch?v=-UUB5DW_mnM). É nas formulações sobre o “espaço” que se evidencia a absorção do materialismo histórico, considerando a categoria de Formação Econômica e Social (F.E.S) como a “mais adequada ao estudo do espaço, porque essa categoria permite que não nos afastemos da realidade concreta” (SANTOS, 2012, p. 213). Defendendo que “somente o estudo da história dos modos de produção e das formações sociais nos permitirá reconhecer o valor real de cada coisa no interior da totalidade” (2012, p. 263).

Milton Santos considera o espaço como instância social, ou seja, como uma estrutura das determinações sociais – sendo ao mesmo tempo subordinada e subordinante, numa relação dialética com as demais estruturas, correspondendo ele a um dos elementos da totalidade social. Nas palavras do geógrafo baiano: o “espaço reproduz a totalidade social na medida em que essas transformações são determinadas por necessidades sociais, econômicas e políticas. Assim, o espaço reproduz-se, ele mesmo, no interior da totalidade, quando evolui em função do modo de produção e de seus momentos sucessivos. Mas o espaço influencia também a evolução de outras estruturas e, por isso, torna-se um componente fundamental da totalidade social e de seus movimentos” (SANTOS, 1982, p. 18).

Não podemos esquecer a posição crítica ao capitalismo e de um anti-imperialismo presente na produção de Milton, lembrando que “se o espaço é concebido como um todo, então a distinção artificial entre “espaço econômico” e “espaço geográfico” poderia ser abolida (Santos 1971, 1974a). Dever-se-ia conceber o espaço como um todo e não como um espaço aristocrático onde os fluxos estudados são unicamente aqueles das grandes empresas e população burguesa. Isto produziria uma verdadeira geografia da pobreza, uma geografia onde riqueza e pobreza não fossem tratadas como entidades separadas, mas como partes complementares de uma só realidade (SANTOS, 1982, p. 17).

De acordo com Santos, “a história humana é marcada por saltos quantitativos e qualitativos, que significam uma nova combinação de técnicas, uma nova combinação de forças produtivas e, em consequência, um novo quadro para as relações sociais” (SANTOS, 2012, p. 198). Novo quadro para as relações sociais que só é possível no comunismo.

Nesses 94 anos de Milton Santos lembramos da influência marxista no seu pensamento e a crítica que Milton empenhou contra as relações desiguais que perpetua o capitalismo. O geógrafo baiano dedicou sua vida intelectual a afastar-se das filosofias ultrapassadas e conceber um novo modo de filosofar.


SANTOS, Milton. Por uma Geografia Nova. Da Crítica da Geografia a uma Geografia Crítica. 6. ed. São Paulo: Edusp, 2012

SANTOS, Milton. Sociedade e espaço: a formação social como teoria e como método. In: SANTOS, Milton. Espaço e Sociedade: ensaios. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1982.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *