Lula está livre. E agora?
Por: Giovanny Simon
A decisão do último dia 7 de novembro do Supremo Tribunal Federal, que garantiu o direito de Lula de recorrer de sua condenação injusta em liberdade, certamente é uma notícia boa e deve ser celebrada.
Significa um respiro de decência das instituições da democracia burguesa. No entanto, não há o que celebrar do ponto de vista da situação atual do Brasil e da correlação de forças vigente.
O Estado autocrático burguês continua aprofundando sua face neofascista e pró-imperialista manifestada no governo Bolsonaro.
A política de desmonte das políticas públicas, dos direitos sociais e trabalhistas, a venda das riquezas nacionais e das empresas estatais para os magnatas estrangeiros continua a todo vapor.
Lula não é um mágico e não tem condições de reverter do dia para a noite a situação política ao nosso favor. Do contrário, teria saído da prisão antes e vencido as eleições.
Sem dúvidas, sua libertação traz um novo gás à luta popular que o vê como uma liderança importante na história dos lutadores brasileiros. Sua capacidade de arrastar as massas diante do seu grande prestígio precisa ser valorizada e incorporada nas lutas do povo. Porém, ela não pode ser considerada como panacéia em si mesma.
Ele já declarou que sairá da prisão “mais à esquerda” e seu discurso de enfrentamento da agenda burguesa e imperialista, ao qual chama de “neoliberalismo”, demonstra que ele assimilou parte das reivindicações das lutas populares dos últimos anos. Isso é positivo e deve ser valorizado.
Contudo, por hora, nada demonstra que Lula, como liderança política, tenha um projeto de poder para o Brasil. Nem como revolucionário e nem como antimperialista. Seu histórico como conciliador e administrador do capitalismo dependente depõe contra ele, nesse aspecto.
É preciso que os setores organizados da esquerda pressionem Lula para avançar no seu programa em direção a uma agenda de luta por reformas radicais e democratizantes.
É certo que as reformas por “dentro da ordem”, abandonadas pela burguesia nativa e nunca implementadas pelas classes dominantes no Brasil, podem se confrontar com as estruturas de dominação burguesa- imperialista e se converterem em reformas “contra a ordem”, como foi o caso da revolução cubana. É possível converter a luta antiimperialista num processo de revolução socialista, como é o caso da Venezuela.
Entretanto, se a luta pelas reformas ou contra o “neoliberalismo” estiver desvinculada, em termos estratégicos, de um projeto de enfrentamento com a ordem burguesa, ela se torna fútil e é facilmente desarticulada pelo poder dominante. É preciso golpear o bloco de dominação burguesa- imperialista construindo um bloco de forças contra-hegemônico.
Prestes sempre teve admiração por Lula, que o considerava como um “operário de talento”. Mas lamentava sua recusa em estudar o marxismo-leninismo.
Apenas operários de talento não fazem uma revolução. É preciso de revolucionários para fazer revolução. E, sem dúvida, não é possível avançar no Brasil sem um projeto e instrumentos de poder. Não é possível derrotar o “neoliberalismo” com um retorno ao reformismo tímido dos anos 2000. Porque o que estamos sofrendo é algo muito mais profundo do que simples corte de gastos. É uma profunda recolonização organizada por fora e por dentro do Brasil, na etapa de crise estrutural do capital que atinge um estágio perigosíssimo para a humanidade.
Houve momentos na história que as massas estiveram mais avançadas que seus líderes, empurrando-os a tomarem posicionamentos mais decisivos. Noutros casos, as massas estavam mais recuadas que seus líderes, e foi sua iniciativa e liderança que as fez avançar.
Ainda é cedo para dizer em qual desses casos pode ser o nosso. Mas é bom ter Lula de volta na arena. Ele pode, assim, ser mais facilmente criticado por seus erros e recuos, tanto quanto pode também avançar.
Seja por oportunismo de certos setores, por dependência de alguns, ou por incapacidade de outros, todos nós estávamos presos com Lula na medida em que estávamos presos à palavra de ordem #LulaLivre. Agora devemos nos libertar da dependência de 2022. Não há tempo a perder. O povo não vai esperar calado vendo a tragédia tomar conta do Brasl. Se Lula e seus aliados não compreenderem isso, ficarão aquém do seu dever para com a história e serão atropelados por ela.