Luiz Carlos Prestes: textos resgatados do esquecimento
A historiadora Anita Leocádia Prestes organizou a publicação de um livro que contém dois importantes textos de autoria de Luiz Carlos Prestes já em momento de entrada na sua fase de maior maturidade política e intelectual. Tal livro, publicado pelo Editora Lutas Anticapital, pode ser “baixado” na internet ou adquirido impresso por R$12,00.
Abaixo a apresentação dos textos publicados por Anita.
Apresentação dos textos
Os artigos de Luiz Carlos Prestes, ora reeditados pela Editora Lutas Anticapital, o são em boa hora, pois foram publicados há muitos anos e tiveram circulação restrita no Brasil. O primeiro artigo, intitulado ―Aspectos da luta contra o subjetivismo no 49º aniversário do PCB‖, foi publicado na revista Estudos[1] (órgão teórico do Partido Comunista Brasileiro) em 1971. Tratava-se de publicação clandestina, vítima, portanto, da feroz repressão movida pela ditadura militar contra os comunistas, condicionando sua distribuição precária e limitada a número restrito de militantes. Nesse artigo, ao combater as tendências subjetivistas de cópia de modelos revolucionários de outros países (Cuba, Peru, etc.), Prestes chama a atenção dos leitores para uma particularidade importante da realidade brasileira, que, segundo ele, ―temos até agora deixado de lado: ―O poderio do Estado em nosso país, poderio que não é apenas econômico, mas também político e – o que é mais importante – apoiado numa tradição reacionária, de instrumento de opressão, de violência e de arbítrio contra a maioria da nação‖. Após fazer uma análise histórica do Estado brasileiro a partir do século XIX, Prestes aponta:
É esse Estado que precisa ser golpeado seriamente para, em seguida, ser efetivamente destruído, a fim de que o processo revolucionário em nosso país avance e possa ser finalmente vitorioso, abrindo para nosso povo o caminho para a democracia, o desenvolvimento econômico independente e o socialismo.
O articulista chama atenção para a necessidade da construção de um partido revolucionário, um ―partido marxista-leninista enraizado nas grandes empresas, capaz de organizar e educar a classe operária, um partido ligado às massas trabalhadoras. Através dele é que seria possível criar as condições que permitiriam ―abalar e golpear a fortaleza da reação, essa muralha reacionária que é o atual Estado brasileiro. Prestes defende uma perspectiva de acordo com a qual a luta contra a ditadura e pelas liberdades democráticas deveria levar os comunistas à preparação das forças sociais e políticas capazes de dar prosseguimento ao processo de transformação revolucionária da sociedade. Nesse caminho, seriam necessários o enfrentamento e a destruição do Estado brasileiro, ―fortaleza da reação.
O segundo artigo, intitulado ―Como cheguei ao comunismo, foi publicado em 1973, na Revista Internacional[2], com sede em Praga (Tchecoslováquia), editada em vários idiomas pelo movimento comunista internacional. Nesse artigo, Prestes relatou o caminho por ele percorrido, do movimento tenentista – do qual se tornara a liderança máxima no final dos anos 1920 – até o ―comunismo científico. Contou que seu primeiro exílio na URSS, nos anos 1931-1934, havia definido seu destino, pois, apesar da resistência inicial do PCB, fora finalmente aceito em suas fileiras. Dessa forma, avaliou Prestes, deu-se a evolução que o levara do ―tenentismo às fileiras do partido do proletariado‖ e da ―condição de oficial das Forças Armadas a serviço das classes dominantes à honrosa situação de soldado do grande exército do proletariado. Na conclusão do artigo, Prestes afirmou:
Já se passaram quase quarenta anos. Foram anos de dura luta, períodos de prisão e de vida clandestina, de fluxos e refluxos do movimento revolucionário. Grandes massas de nosso continente participam hoje da convicção dos comunistas de que só o socialismo pode resolver os problemas de nossos povos. Sinto-me feliz com a opção política por mim feita e que confirma uma vez mais o acerto das palavras de Lenin de que ―no século XX, num país capitalista, é impossível ser democrata revolucionário se se teme marchar para o socialismo.
Prestes aproveitou a oportunidade que lhe fora oferecida com a publicação do artigo para, uma vez mais, externar a opinião de que só havia um caminho para a revolução na América Latina: o caminho do socialismo.
Anita Leocádia Prestes Rio de
Janeiro, junho/2019
[1] Aspectos da luta contra o subjetivismo no 49º aniversário do PCB‖, Estudos, ano 1, n. 2, mar. 1971, p. 5-24.
[2] Como llegué al comunismo‖, Revista Internacional, Praga (Tchecoslováquia), n. 1, jan. 1973, p. 76-80.