O avanço da barbárie imperialista e a resistência do povo trabalhador
Contribuição do Movimento Avançando Sindical (MAS)
A conjuntura internacional pode ser sinteticamente abordada a partir do acirramento da crise estrutural do capital1, com o prolongamento por quase uma década da crise dos subprimes (2008) em que a crise financeira é apenas a consequência do atual estágio de desenvolvimento do sistema sociometabólico do capital. É o Capital a raiz dos principais problemas e desafios estruturais que a humanidade enfrenta na contemporaneidade.
A formação imperialista do capital e em particular a hegemonia estadunidense evidenciam as principais estratégias de reprodução de um sistema social que para se manter de pé é obrigado a submeter povos e nações inteiras à mais profunda barbárie social.
As Guerras Mundiais do século XX são exemplos de como as alternativas para a saída das crises do capital ocorreram pelo fortalecimento do complexo industrial militar, contudo, estas perspectivas chegaram ao limite no momento do domínio da fissão nuclear e da corrida por armamento nuclear durante e após a “guerra fria”2. Atualmente a capacidade do armamento nuclear das grandes potências militares é suficiente para destruir a superfície do planeta terra mais de uma centena de vezes. Ou seja, estamos diante de um limite em que a própria existência da humanidade está em cheque.
É com preocupação que analisamos a ofensiva militar imperialista ianque sobre a península Coreana e em sucessivas provocações militares ao povo da Coreia do Norte. As tensões nucleares a península Coreana tem como objetivo o cerceamento militar das potências econômicas e militares da China e Rússia. A nuclearização dessa península pelos Estados Unidos tem gerado temor entre todos os povos da região.
Por outro lado, a ofensiva imperialista estadunidense se sobrepõe aos anseios imperialistas europeus por meio do controle da OTAN e do papel de defesa militar desta dentro da comunidade europeia. Assim, a ofensiva contra os povos da África e o Oriente Médio realizado pelas nações europeias e seus sócios regionais como Israel, Arábia Saudita, Catar, entre outros, cumpre papel subordinado aos objetivos estratégicos da OTAN (Ianques). A política de Donald Trump inclui a proposta de aumentar em 10% os já vultosos gastos militares dos EUA (que já consomem 15,4% do orçamento do governo federal estadunidense)3. Contudo, os resultados destas incursões militares da última década tem demonstrado que o objetivo é a proliferação da barbárie e a destruição dos estados nacionais, constituindo grandes zonas de permanente instabilidade política e constantes conflitos militares capazes de manter as bases do complexo industrial militar dos países centrais ativas.
Os conflitos da Líbia, Síria e Iêmen são hoje motivos de estrondosos negócios militares para as nações europeias e os Estados Unidos (em maio de 2017 Arábia Saudita e Estados Unidos fecharam um contrato de U$ 110 bilhões para a compra de armamento a ser usado nas guerras da Síria e do Iêmen)4. No outro lado destes acordos bilionários estão os povos e nações que mergulham em um processo de regressão social e ascensão da barbárie. A estratégia não é mais a conquista de territórios e suas riquezas, mas a destruição das estruturas sociais capazes de proteger povos e nações. A destruição do Estado Nacional é evidente no Iraque, Afeganistão, Líbia, Sudão, Mali, Iêmen, entre outras nações. A guerra da Síria nunca foi contra este ou aquele governante, mas sim contra o povo sírio e seu estado nacional.
Na América Latina e Caribe a estratégia imperialista demonstra a pavimentação do caminho da barbárie. A associação do estado com o narcotráfico na Colômbia e no México são manifestações claras de destruição do estado nacional e a constituição de “gangues” que governam regiões e nações. O relevante Pacto de Paz na Colômbia, que visa eliminação do estado paramilitar reinante no país, vivencia momentos decisivos em que a deposição das armas da guerrilha precisa ser seguida pelo fim do narcoparamilitarismo e pela possibilidade de construção democrática da participação política do povo e das forças de esquerda. Contudo, este caminho é permanentemente adiado também pela presença das tropas estadunidenses em nove bases militares espalhadas pelo país.
Estas bases militares, com plena autonomia de movimentação por parte do pentágono estadunidense, possuem como principal alvo a República Bolivariana da Venezuela. Em março de 2015 o presidente Barak Obama (Nobel da Paz (SIC!)) assinou uma ordem executiva declarando que a Venezuela é uma “ameaça para a segurança nacional norte-americana”. Esta ordem executiva é o início da preparação para uma intervenção militar e para desencadear ações de desestabilização e golpe contra o Governo de Nicolas Maduro. Em março desse ano (2017), a Organização dos Estados Americanos (escritório das colônias ianques), em uma manobra contrária ao regimento, buscou a condenação do Governo da Venezuela por quebra das normas democráticas.
A partir destas decisões a oposição na Venezuela iniciou uma série de manifestações de rua, muitas delas com caráter violento, tendo como alvos instituições públicas, provocando incêndios e destruição de instrumentos públicos de serviços à população, com um saldo de vítimas fatais que já somam mais de 50 pessoas, na sua grande maioria militantes Chavistas e trabalhadores da segurança pública. O quadro é de eminente ofensiva militar ianque, que terá como meta a deposição do presidente Maduro e a profunda desestabilização da sociedade venezuelana por meio de uma “guerra civil” financiada pelo pentágono.
O mesmo roteiro de desestabilização tem ocorrido nos países do Oriente Médio e da África. Não se trata da deposição de um Governo apenas, o objetivo estratégico é a debilitação do estado nação por meio de em um permanente ambiente de conflitos militares e profunda instabilidade das nações, destruindo os serviços públicos essenciais e levando todo o povo a mergulhar na barbárie social imposta pelo capital.
As nações latino-americanas que não se submeterem aos desígnios imperiais poderão seguir o caminho que está traçado para a Venezuela. Assim, Equador e Bolívia, diante dos governos claramente anti-imperialistas, são alvos de diferentes formas de agressão dos agentes externos e internos do imperialista estadunidense.
O Governo golpista de Michel Temer tem contribuído de forma decisiva para desestabilizar a região, manifestando-se de forma subordinada aos interesses estadunidenses. Assim nossas representações diplomáticas têm impulsionado medidas para sancionar o Governo da Venezuela e colocá-lo sob o risco de uma medida de ação militar multilateral contra o povo venezuelano. A realização de manobras conjuntas entre Brasil, Colômbia, Peru e Estados Unidos, na tríplice fronteira amazônica é uma grave ameaça a soberania de todos os povos da América Latina, e em especial ao povo venezuelano.
O povo trabalhador resiste e as alternativas contra hegemônicas se fazem necessárias
Em todo o mundo as classes trabalhadoras da cidade e do campo, resistem à ofensiva do capital contra o trabalho. As nações europeias são varridas por greves e manifestações multitudinárias em defesa dos direitos sociais e contra a regressão social do capital. Nos continentes africano e asiático ocorre um crescente número de greves e manifestações operárias contrárias à política de retirada de direitos, o movimento sindical se fortalece e cresce a força política e organizativa da massa trabalhadora e despossuída.
Na América Latina, o aumento das manifestações populares e das classes trabalhadoras é registrada em quase todas as nações. No México manifestações multitudinárias denunciam o narcoestado reinante em quase todo território nacional. A chacina dos 43 estudantes da escola rural do magistério de Ayotzinapa, do Estado de Guerrero (México), em 26 de setembro de 2014, é a mais ampla expressão da associação criminosa entre o estado e o narcotráfico. Essa chacina tem sido internacionalmente denunciada como um crime de estado. Os trabalhadores da Educação, em especial do magistério camponês, não esquecerão seus mortos nesta luta contra a barbárie.
Na Colômbia o plano de Paz entre o Estado e as Forças Armadas da Colômbia – Exército do Povo tem o reconhecimento das organizações de direitos humanos em plano internacional e nacional. As organizações das classes trabalhadoras tem constantemente se manifestado pela execução integral dos termos do acordo e combatido permanentemente as forças fascistas apoiadas diretamente pelos EUA, que visam não um acordo, mas a imposição de uma derrota à mais longa guerrilha socialista da história da humanidade. A garantia do acordo de paz é a possibilidade de constituição de um bloco contra-hegemônico capaz de derrotar o narcoestado sócio menor dos interesses imperialistas.
O povo venezuelano também tem massificado a luta contra a imposição do caos e da desordem pelo imperialismo. A resistência ao golpe de estado e as manifestações desestabilizadoras tem mobilizado centenas de milhares em grandes manifestações que demonstram um importante apoio popular ao Governo de Nicolas Maduro. A convocação de uma assembleia constituinte, que garante a presença ampla dos setores populares, indica a possibilidade de avanços materiais para a constituição das bases de um efetivo controle social sobre o capital, aprofundando o desenvolvimento da perspectiva socialista. A correta resposta à ofensiva desestabilizadora e regressiva da barbárie imperialista é o fortalecimento do projeto efetivamente socialista para a nação venezuelana.
Na Argentina a política de regressão social do Governo Macri tem sido combatida por importantes manifestações das classes trabalhadoras. A greve dos trabalhadores da educação que sacudiu a nação paralisando a capital Buenos Aires é motivo de inspiração para as massas trabalhadoras de todo o continente. A realização da Greve Geral, no início de abril deste ano, paralisou a nação e demonstrou o protagonismo das classes trabalhadores no enfrentamento da regressão social imposta pelo capital.
Esta síntese panorâmica não tem a pretensão de esgotar a multiplicidade das lutas e a complexidade da conjuntura de resistência das classes trabalhadoras, mas é suficiente para indicar o papel protagonista que em várias nações os trabalhadores da educação têm desempenhado nesse processo, assim como o crescimento da resistência da classe trabalhadora em todos os continentes do mundo. Evidentemente que o quadro geral é ainda de ações defensivas contra a regressão social da crise estrutural do capital, contudo a organização dessa resistência é a base objetiva que abre possibilidades à construção de uma ofensiva ao capital pelas classes trabalhadoras. O caminho para as classes trabalhadoras é, além da resistência, a luta pela construção de um “bloco contra-hegemônico” capaz de garantir a autonomia e independência das classes trabalhadoras frente aos interesses do latifúndio, dos monopólios e do imperialismo, pavimentando o controle social sobre o capital e a edificação de uma sociedade socialista.
1. Para István Mészáros a Crise Estrutural do Capital é caracterizada pelos limites de auto reprodução do sistema sociometabólico que culminam numa crise endêmica, cumulativa, crônica e permanente; e suas manifestações são o desemprego estrutural, a destruição ambiental e as guerras permanentes.
2. Colocamos entre aspas “Guerra Fria”, pois o período que marca o pós-segunda guerra mundial foi marcado por vários conflitos militares de grandes proporções como as lutas anticoloniais do continente africano, asiático, no oriente médio e na América Latina, com a presença significativa das forças imperialistas estadunidenses e europeias contra a autodeterminação dos povos.
4. Conferir: http://brasil.elpais.com/brasil/2017/05/20/internacional/1495269138_611412.html.