O comunismo é a juventude do mundo!
Um argumento comum do anticomunismo mundial consiste em dizer que a tradição comunista foi ultrapassada; que ela não diz respeito ao mundo moderno e é anacrônica. E que, portanto, não se deve buscar superar o capitalismo e todas as suas contradições. Deve-se buscar apenas amenizar sua capacidade destrutiva. “Domá-lo”.
No Brasil, esse argumento tem um acréscimo. Diz-se que o brasileiro renega totalmente o pensamento marxista.
Para desmontar esse erro de análise, deve-se examinar a história do movimento comunista brasileiro. A ideia aqui é que não exista nenhuma “essência” ou “natureza” que renegue o comunismo – e que sua rejeição é, portanto, fruto do processo histórico e da luta de classes e, dessa forma, mutável.
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O início do Partido Comunista no Brasil, em especial nos anos de 1940, foi marcado por uma grande participação das massas. No livro Prestes: lutas e autocríticas, de Dênis de Moraes e Francisco Viana, documenta-se a existência, em 1948, de 150 mil militantes e de pelo menos 600 células só em São Paulo. Os números mostram um insano crescimento, já que, em 1946, existiam apenas 2 mil militantes no Partido.
Essa adesão demonstra não só a capacidade do Partido de representar as necessidades dos trabalhadores, mas também uma ampla rede de comunicação que, com agitação e propaganda corretas, agregaram as massas e as politizaram.
Porém, ainda que massificado, erros de estratégia – inclusive do próprio Prestes, importante dirigente do PCB na época – trouxeram duras derrotas ao movimento.
A partir de uma análise equivocada da realidade brasileira, o Partido identificava na burguesia uma aliada na luta contra o imperialismo e pelo pleno desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Houve, por parte do PCB, uma assimilação mecânica das concepções leninistas sobre a Rússia czarista e o caminho e caráter da revolução no país, para a realidade latino-americana. Nas teses da III Internacional sobre os países coloniais e semicoloniais (incluindo o Brasil), identificava-se o predomínio de relações do modo de produção asiático nesses países. Essas concepções, que passaram a orientar as atividades do PCB, indicavam que a ação dos Partidos Comunistas deveria estar voltada à organização do movimento revolucionário de massas dirigido contra o regime feudal e o imperialismo. A partir disso, o Brasil deveria enfrentar, em um primeiro momento, uma revolução de caráter democrático-burguês, agrária e anti-imperialista. Para, em uma etapa posterior, transitar ao socialismo.
Entretanto, o padrão de desenvolvimento capitalista dependente que se estabelece no Brasil dá origem a uma forma de acumulação em que os latifundiários e a grande burguesia brasileira se associam e submetem política e economicamente ao imperialismo, repartindo de maneira desigual o excedente da expropriação de riquezas e da exploração do trabalho.
A incapacidade do Partido Comunista de levar à frente o processo revolucionário, causada pela adoção de uma estratégia de revolução em etapas que não provinha de uma análise acertada da realidade brasileira e dos verdadeiros sujeitos revolucionários, abriu espaço para as ofensivas reacionárias. Nessa época, a perseguição trouxe mortes e desarticulou o PCB e suas estruturas de luta, propaganda e agitação.
A reação conseguiu se sobrepor. Exterminando a propaganda comunista, ela pôde com grande liberdade falsificar a teoria, a prática e a história do movimento.
Se desenha, assim, a construção do anticomunismo no Brasil. Não por alguma metafísica antimarxista que emana do povo. Mas pelo processo histórico que, por erros estratégicos dos próprios comunistas, impôs duras perdas à luta proletária.
Aqui se situa, por exemplo, a autocrítica de Prestes e seu rompimento com o PCB em 1980. Assumir a incapacidade da burguesia nacional em levar para a frente a revolução democrática-nacional significa, nesse sentido, buscar uma nova linha, dessa vez, correta. E, portanto, reconstruir o Partido Comunista. A autocrítica do PCB viria anos depois. E cabe aos comunistas, agora, a reconstrução do maquinário ideológico e propagandístico do movimento.
Justificou-se, até então, no texto, a explicação do caráter histórico da rejeição do comunismo pelo povo. Agora, a proposta é explicar, de fato, a atualidade do comunismo como teoria e prática política.
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O desenvolvimento do capitalismo do Brasil trouxe consigo suas contradições. A desigualdade social, a violência e a miséria são consequências diretas do imperialismo e do processo de acumulação de capital.
Os ideólogos burgueses insistem em tratar sobre a autorregulação do Mercado. A história, contudo, mostra o contrário: a tendência é sempre o surgimento do monopólio privado, pelos mais diversos motivos.
O funcionamento normal do capitalismo, dessa forma, acirra a relação entre salário e lucro – respectivamente o sustento proletário e o sustento burguês. Para manter seus interesses, a burguesia, que construiu historicamente e compõe o Estado capitalista, desenvolve políticas de repressão ao trabalhador, criminalizando movimentos sociais e empurrando os ônus da produção para ele.
Nos países da periferia do capitalismo, a situação é ainda mais crítica. A origem estrangeira do capital aqui estabelecido mina até mesmo a construção de uma infraestrutura que comporte os trabalhadores. A exploração é pior, a violência é pior, a desigualdade é pior. Não há preocupações humanitárias; há apenas o capital e sua manutenção.
Explica-se assim a contínua condição de miséria a que são empurrados os países dependentes.
Nesse contexto, diversos movimentos de esquerda tentaram, no decorrer da história, interferir no modo de ser capitalista e minimizar seus efeitos destrutivos.
Essa prática não é de todo errada. De fato, deve-se lutar por melhores condições de vida para os trabalhadores. Mas isso não é o suficiente.
Historicamente, as conquistas dos trabalhadores, especialmente nos países de capitalismo dependente, mostraram-se efêmeras. As crises cíclicas que periodicamente abalam o capital, hoje em um estado de crise estrutural profunda e irreversível, tornam o Estado burguês cada vez mais duro e violento com os de baixo. Para tentar sustentar o capital privado, fortes políticas de austeridade e corte de direitos trabalhistas são assumidas.
Tal é, por exemplo, a situação do Brasil desde o Golpe de 2016. Ainda que algo se tenha conquistado em termos de qualidade de vida nos governos petistas, não foi suficiente. Logo a burguesia se articulou e impôs derrotas ainda mais severas ao povo.
Nesse sentido, os movimentos grevistas de caráter reformista se contentam com pouco. A única maneira de frear os golpes da burguesia na classe trabalhadora é efetivamente conquistando o poder, derrubando o Estado burguês e suas formas de financiamento e defesa, e construindo o Estado proletário, capaz de se defender contra os futuros ataques da burguesia nacional e internacional.
Os movimentos que reivindicam direitos, então, assumem caráter duplo. Primeiro, para conseguir melhores condições de vida ao povo. Segundo, para elevar a consciência das massas, agrupando-as e politizando-as cada vez mais, num processo construtivo.
Só assim as lutas dentro do capitalismo podem agregar: contribuindo para a efetiva tomada do poder.
Eis aqui a atualidade do comunismo. Só ele, nessa linha, traz a ruptura decisiva com o capital, e impede a reorganização da burguesia, que se impõe violentamente com a mínima brecha.
Só ele pode assegurar a permanência a longo prazo dos interesses do povo.
As afirmações de que ele seria anacrônico são, portanto, falsificações da história. Entende-se, erroneamente, que a derrota do movimento comunista é também o fim das contradições no capitalismo. Mas isso não é, definitivamente, o que a realidade mostra. As raízes dos problemas sociais ainda são as mesmas. As dinâmicas econômicas e históricas ainda são as mesmas.
Enquanto existir classe proletária no capitalismo, as contradições ainda existirão. E o comunismo irá se impor como necessidade histórica.Sua atualidade estará intocada. E se poderá afirmar: o comunismo é a juventude do mundo.